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segunda-feira, 13 de junho de 2011

A JÓIA DO SERTÃO

                 Ivan Ruela

                            
Foto:Divulgação
A Caatinga é um bioma pouco conhecido por aqueles que vivem no extremo sul do país, repleta de endemismos e de belezas notáveis.  Uma de sua atrações sem sombra de dúvida é a a Arara-Azul-de-Lear (Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856). uma espécie de ave da família Psittacidae, que se encontra ameaçada de extinção a 30 anos. "No início da década de 80, foram registradas cerca de 60 espécies apenas na natureza. No último levantamento, em  2010, foram encontrados 1200 indivíduos desta espécie", comemora João Luiz Xavier(CEMAVE/ICMBIO), em palestra sobre o s"10 anos do projeto Arara-Azul-de-Lear", no XVIII Congresso Brasileiro de Ornitologia, no inicio deste mês, em Cuiabá-MT. 
   O projeto é realizado nos municípios onde se tem registro da arara, como Canudos, Euclides da Cunha e Jeremoabo, todos no sertão baiano.  A ave já foi considerada extinta da natureza, sendo redescoberta pelo pesquisador alemão Helmut Sick, no final década de 70, na região do Raso da Catarina. A urgência em proteger a espécie justificou  a criação, pelo Ibama, em 1992, do "Comitê  para o Manejo e Conservação da Arara-Azul-de Lear", com o objetivo de propor e implementar estratégias  de conservação. Compõem  grupo, o ICMBIO, a Fundação Biodiversitas, além  de pesquisadores e mantenedores de diversos países. O projeto atua em várias frentes. "Fazemos o monitoramento populacional, planejado de acordo com as recomendações do comitê, a partir da realização de censos simultâneos em locais de dormitórios. São três pesquisas por ano, além de busca de novos locais", afirma Xavier. "Umas das técnicas utilizadas é  o rapel, para investigação do interior dos ninhos. Também estudamos meios de assegurar o suprimento alimentar para esta espécie, um de seus fatores principais para sua preservação". 
   A palmeira Licuri (Syagrus coronata) grande fonte de alimentação da ave, tem tido uma atenção especial pelos pesquisadores do programa, afinal ela também é fonte de alimentação de animais criados na propriedades da região, como gado e caprino, além de  ser alvo de corte e queimada.  Foram transplantados licurizeiros semi-adultos para algumas fazendas, através também de uma boa irrigação, no local, lembrando que a ave percorre cerca de 70 km de sua área de dormitório até o ponto de alimentação.  Outro problema apontado por Xavier, é o fato de as araras atacaram plantios de milhos da região, chegando a destruir cerca de 70% da lavoura da propriedade. Em retaliação, algumas delas acabavam sendo abatidas, ou ficam debilitadas fisicamente. Numa solução louvável, agricultores passaram a ser ressarcidos pela plantação afetada, recebendo em sacas,  a mesma quantidade que perderam, com apoio de instituições ligadas ao projeto.  Os produtores recompensados também assinam um termo garantindo que não abaterão  a ave. 
   O  projeto realiza cursos em conjunto com o PROAVES e Ministério do Meio Ambiente, para fiscalização de tráfico de aves na região. No processo de soltura destas, as aves ficam num gaiolão ao ar livre, sendo observadas por pesquisadores através de burcas, afim de evitarem um stress, protegendo sua recuperação. Algumas já são  libertadas e acompanham  as araras  soltas que por ali voam em bando. A Educação Ambiental também tem destaque, com grande divulgação na região, através do 'Jornal Arara Azul de Lear', cartilhas, oficinas e palestras. Existe ainda dentro do projeto o Cinema  Arara Azul de Lear. No decorrer dos filmes, as atividades do projetos são apresentadas, envolvendo a comunidade. Trabalhos de artesanato utilizando a imagem da arara, e a palha do licuri, também são feitos pelos nativos. "Não adianta ter a melhor ciência, se não tem a participação da comunidade" finaliza Xavier.

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