Foto: Ministério do Meio Ambiente |
A expedição de uma equipe formada por técnicos ambientais, biólogos e jornalistas deve percorrer 19 mil quilômetros do Pantanal até dezembro para mapear iniciativas que contribuam para a conservação da região da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP). A equipe do Instituto SOS Pantanal dividiu o percurso em nove rotas.
São mais de 160 mil quilômetros quadrados de Pantanal em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Uma área maior que a Holanda, Portugal e Bélgica juntos.
Foi na fazenda Caiman, em Miranda, que o Instituto SOS Pantanal fez o lançamento deste projeto ousado, a Expedição Pantanal. “Esta expedição vai conhecer pelo Pantanal quais são as boas práticas que existem”, diz o presidente do instituto, Roberto Kablin.
O lançamento oficial foi durante a premiação dos peões campeões de um torneio de laço. O peão pantaneiro se diverte praticando o que ele mais faz no campo e demonstra destreza e pontaria perfeitas. Nessa região de extremos, o homem precisa saber que quem manda é a natureza.
O banqueiro André Esteves comprou alguns milhares de hectares no Pantanal do Rio Negro, onde pretende tocar fazendas de pecuária e investir em preservação. “Não adianta a gente pensar em preservar o meio ambiente e não trazer uma alternativa econômica a isso, graças a Deus, aqui, esta equação é muito bem resolvida, temos isso há centenas de anos”.
A vice governadora Simone Tebet, que é da região do bolsão, também esteve presente e se encantou com as belezas pantaneiras. “Não tem como este projeto não colher algo fundamental para Mato Grosso do Sul, para o meio ambiente, que é analisar e perceber as nossas vulnerabilidades. Teremos condições de executar ações concretas para transformar aquilo que está colocando em perigo o nosso Pantanal em ações pioneiras e inovadoras de preservação.”.
Mas veio do senador Delcídio do Amaral (PT/MS) a promessa mais esperada: a de criar uma lei específica para proteger o bioma Pantanal. Isso é previsto na constituição de 1988, mas, até agora, não saiu do papel.
“Estabelecendo uma série de medidas para disciplinar a atuação do homem sobre o bioma pantaneiro; eu vou preservar, eu tenho que ser remunerado por aquilo que preservei e não adotarem um tipo de procedimento comigo semelhante ao que adotam para quem devasta, a quem não trata adequadamente o nosso bioma”.
Mesmo quem não é do Pantanal já descobriu que esse paraíso precisa de muita atenção. Tanto que uma empresa que fabrica automóveis investe muito em preservação e, aqui, é uma das patrocinadoras. “Encontramos uma sinergia nesta atividade, nós estamos muito felizes em participar disto”, disse o diretor executivo da Fundação Toyota, George Costa Silva
O papel da imprensa é fundamental para levar até as pessoas, as informações sobre o que acontece nesses recantos. “Eu acho nos temos uma grande discussão que é o Pantanal, o centro-oeste, enfim, o meio ambiente como um todo, da Amazônia até o sul, o Brasil é uma coisa só que temos que olhar com a mesma preocupação”, disse o vice-presidente do Grupo Zahran, Caio Turqueto.
Após o lançamento oficial, a equipe de expedicionários saiu rumo a primeira rota. A primeira parada foi no fim do aterro, a única estrada de acesso às fazendas. O grupo chega à Aquidauana, na fazenda Retirinho e encontra grande movimentação.
A fazenda, em março, estava completamente inundada, o rebanho foi retirado e levado para outra área. Os animas já retornaram depois que as águas abaixaram e, agora, o gado já está sendo transportado para o frigorífico. Este sistema de trabalho faz parte do trabalho de estudo da expedição.
“Embora a gente faça um pré-agendamento, a ideia é conhecer o dia a dia de cada prática que a gente está visitando, tudo isto é muito didático”, avalia Lucila Egydio, coordenadora da Expedição Pantanal.
No meio dos peões, está Jesus Xaviera, que há vinte anos na lida com o gado na região pantaneira. “A gente acostumou aqui”.
No único ponto onde as carretas chegam o fazendeiro construiu uma estrutura para embarcar o gado que é usada por toda a vizinhança, pois só assim conseguem embarcar o gado.
Muitos fazendeiros precisam voar para chegar as suas terras, o que torna o avião uma necessidade, principalmente em época de cheia. A casa do produtor Timóteo Proença construída há 50 anos, é um ponto de passagem para quem vai se embrenhar no Pantanal do Rio Negro.
Logo na recepção, que é feita com muita hospitalidade, o pessoal da expedição já começa a tentar entender um pouco a história da família e se preparam para o almoço, um verdadeiro banquete preparado pelas cozinheiras da fazenda. Depois do almoço sob a sombra fresca, às margens do rio Aquidauana, Timóteo explica como é a lida de quem depende do Pantanal.
“É uma prática sustentável. A própria natureza não deixa você o que quer, para que se preserve, isso aí tem que ter remuneração, é o caminho mais certo. Se você não tiver produzindo, vai ter que vender uma parte de sua área”.
Os caminhos no Pantanal mudam conforme a época. Quando vem a enchente são feitos atalhos, já não existem estradas, apenas trilhas que passam por dentro das fazendas.
A equipe chega na fazenda Nova Estância. Após o período de cheia o gado precisa ser levado para outro pasto. O produtor Kalil Ibrahim Zaher faz parte da terceira geração da família que vive no Pantanal, diz ter encontrado uma paixão e uma fonte de renda. A fazenda tem 11 mil hectares, 5,5 mil cabeças de gado. A natureza deu o pasto e onde tem mata ele preservou.
“Custo de produção é mais baixo, não precisa tanta tecnologia, como na serra. Aqui você não gasta com reforma de pastagem, o calcanhar de Aquiles da pecuária”.
São pelo menos 11 pantanais diferentes dentro do Pantanal. Dependendo da região, a paisagem é completamente diferente e o jeito de lidar nas fazendas também. Nas últimas décadas, muitas propriedades abriram as porteiras para o turismo.
Na pousada Barra Mansa, a expedição encontrou a catarinense Poliana, que se casou com neto de pantaneiro e há um ano é gerente da pousada da família. A expedição quer registrar esse mosaico, essas diferentes situações em que vive o Pantanal hoje.
O bioma está com mais de 80% da planície preservada por causa do estilo de vida do jeito pantaneiro de ser.
Fonte: G1 MS
Fonte: G1 MS