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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A informação ambiental e o observador


Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*

A sociedade precisa da informação ambiental para fazer escolhas melhores entre diferentes modelos de desenvolvimento e estilo de vida. O problema não está na porta trancada, mas na chave por dentro. A informação ambiental existe e está disponível, o problema é a sociedade querer receber esta informação.

A informação ambiental, aliás, como qualquer informação, não é neutra, mas carrega consigo o olhar do observador. Seja o repórter ou fotógrafo que produziu o texto ou a imagem, seja a fonte da notícia, seja o editor que a escolheu ou ajustou ao tamanho do espaço, todos o fazem a partir do olhar que tem da realidade, que difere, naturalmente, de pessoa para pessoa.

Entre os desafios para se manter bem informado ambientalmente está o de identificar as fontes e os veículos de comunicação que mais se adéqüem ao seu interesse. Não basta saber sobre o que a informação ambiental quer dizer, mas também sobre quem disse e quem veiculou o que irá conferir maior ou menor credibilidade à informação. Por exemplo, uma empresa que se auto-elogia pelos bons resultados ambientais que alcançou tem lá seus méritos, entretanto, a informação não será tão valorizada quanto se agregar o valor de uma terceira parte independente.

Os jornalistas têm a preocupação do contraponto, procurando ouvir diversos lados sobre uma mesma questão, ainda assim, por mais que se empenhem, existirão aspectos que, até pela limitação de tempo ou de espaço, terão de ser desconsiderados. Dependendo desse observador, a ênfase da informação estará mais nos aspectos empresariais, ou da cidadania, ou da administração publica, e assim por diante.

E como informação é poder, seja no mundo dos negócios, seja na mobilização da cidadania por suas causas, ter e manter o acesso à informação ambiental plural e diferenciada é fundamental para a sociedade que se propõe democrática e que anseia pela sustentabilidade.

Hoje, existem disponíveis na internet diversos sites, blogs, boletins informativos sobre meio ambiente, cada um com seus diferentes olhares. Alguns com ênfase mais nas informações técnicas, ou políticas, outros nas informações locais, regionais ou globais, outros mais centrados nos aspectos do consumo responsável, ou ecologia interior, ou meio ambiente urbano, ou educação ambiental. A variedade de temas e conteúdos é tão grande quanto o interesse ambiental deste segmento de publico com acesso à internet e com a motivação para buscar e querer receber a informação ambiental.

O Google, por exemplo, possui uma ferramenta de busca que diminui a interferência de um editor na escolha das notícias. Basta escrever qualquer palavra nos "Alertas do Google" para passar a receber por e-mail tudo o que for publicado na internet sobre aquele assunto. Não existe nesta ferramenta o papel de um editor organizando as informações segundo seu olhar e o que acha que seu segmento de público irá gostar de ler. Para quem está acostumado a ter um editor filtrando notícias e escolhendo o que deve ser lido sobre um determinado assunto, esta ferramenta pode nem ser de muita utilidade. Entretanto, aponta uma tendência.

O problema ainda esta no acesso às informações ambientais pelos demais segmentos de público que, ou não se interessam pela informação ambiental, por achá-la chata ou crítica demais, ou não dispõe das ferramentas intelectuais ou técnicas que assegurem este acesso. Menos de dez por cento da sociedade brasileira esta incluída digitalmente e uma grande parcela da sociedade ainda é de analfabetos de fato ou analfabetos funcionais, ou seja, sabem ler e escrever, mas não são capazes de compreender direito uma idéia num texto.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental (http://www.rebia.org.br/ ) e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente ( http://www.portaldomeioambiente.org.br/  ).  Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas – http://www.escritorvilmarberna.com.br/


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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Cuiabá será sede do Congresso Brasileiro de Ornitologia

A Universidade Federal de Mato Grosso -UFMT, localizada em Cuiabá será sede do XVIII Congresso Brasileiro de Ornitologia entre os dias 5 a 9 de junho próximo. O evento terá como tema " a biodiversidade de aves na Amazônia, Cerrado e Pantanal Matogrossense : Presente e perspectivas Futuras". Até o momento, o evento tem confirmadas as seguintes atrações:

Mesas Redondas

Mesa-Redonda 1: “ Biodiversidade das Aves da Amazônia”


Debatedores: Dr. Alexandre Aleixo (MPEG) – Coordenador

Dr. Mario Cohn-Haft INPA

Dr. Luis Fabio Silveira-MZUSP

Dr. Alex Lees –MPEG



Mesa-Redonda 2: “Biodiversidade de Aves do Pantanal”


Debatedores: Dr. João Batista – Coordenador

Dra. Ana Maria Saavedra - MHNK

Dr. Paulo Zuquim Antas - FUNATURA

Dr. Walfrido Tomás – Embrapa Pantanal


Mesa-Redonda 3: “Biodiversidade de Aves do Cerrado

Debatedores: Dr. Leonardo Lopes - UFV– Coordenador

Dr. Marcelo Vasconcelos- PUC/MG

Dr. Luis Fabio Silveira MZUSP

Dr. Pedro Develey – Save Brasil


Mesa-Redonda 4 “Aves migratórias brasileiras – Desafios para o conhecimento e conservação nos próximos 10 anos“

Debatedores: Dr. João Luiz Xavier Nascimento – CEMAVE/ICMBio

Dr. Marcio Efe - UFAL

Dr. Severino Mendes - UFPE

Dr. Antonio Augusto Ferreira Rodrigues – UFMA


Mesa-Redonda 5: “Coleta de Aves no Brasil: problemas e soluções?”

Debatedores: Dr. Romulo Ribon (UFV) – Coordenador

Dr. Alexandre Aleixo (Museu Goeldi)

Dr. Marcelo Ferreira de Vasconcelos PUC-MG

Ms. Leonardo Mohr (IBAMA)

Mini-Cursos
1) Ecologia da polinização – Dr. Caio Graco


2) Biogeografia de aves do Cerrado- Dr. Leonardo Esteves Lopes

3) Biologia reprodutiva de aves – Dr. Miguel Ângelo Marini (UnB)

4) A Bioacústica e seus usos – Dr. Luis Gonzaga Pedreira-URFJ

5) Analise de viabilidade Populacional - Dr. Charles Duca - UFVV (a confirmar)

6) Técnicas de coleta e taxidermia de aves – Dr. Marcelo Vasconcelos (PUC/MG)

7) Genética e Evolução de aves - Dra. Cristina Yumi Miyaki (USP)

8) A Estatística como ferramenta na Ornitologia – Dr. James J. Roper, (UFVV) (a confirmar)

9) Técnicas para análise de dieta de aves – Dra. Marcia Pascotto (UFMT)

10) Levantamento, seleção de habitat e dieta em aves de rapina diurnas e noturnas - Dr. Marco Antonio Monteiro Granzinolli - USP e Dr. José Carlos Motta-Junior- USP

11) Fotografia de Aves – Edson Endrigo - FOTOAVES

12) Consultoria ambiental- Fernando Straube - Hori Consultoria (a confirmar)

13) Comunicação Cientifica – Dr. Mario Cohn-Haft- INPA

14) Identificação, Pesquisa e Conservação de Aves – Marcio Efe – UFAL

15) Modelagem de nicho- ClaitonFerreira – UFRGS/SBO

16) Conservação de Aves - Dr. Pedro Develey – SAVE Brasil

17) Métodos de Amostragem de Aves- Dr. Romulo Ribon –UFV

18) Anilhamento de aves silvestres aplicado à conservação – Dr. João Luiz Xavier – CEMAVE/ICMBio

19) "Identificação de carrapatos que parasitam aves no Brasil" – Dra. Darci Batestti- Butantan e Dra. Marcia Arzua- MHNCI

 *As informações são do blog avesmatogrosso.blogspot.com

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

"O produtor rural só vai conseguir vender a sua produção se tiver o licenciamento ambiental da sua propriedade", diz procurador do MPF-PA -

Por Aldrey Riechel - O mercado está fechando as portas para a carne produzida de forma ilegal na Amazônia.  Nessa semana o Ministério Público Federal (MPF) e o Governo do Pará deram mais um passo importante para regularizar a produção pecuária no estado do Pará, ao se comprometerem que nenhum município, até junho, comercializará carne sem o cadastro ambiental e rural de suas propriedades.

Mesmo com a assinatura do governador Simão Jatene se comprometendo em colaborar com a redução do desmatamento e o fim da pecuária ilegal, cabe a cada prefeito do Pará assinar o pacto, caso contrário, as propriedades que não tiverem o cadastro ambiental rural ou estiverem em processo de aquisição não poderão comercializar seus produtos.

Inicialmente o pacto poderia ser assinado até o dia 1º de fevereiro, mas levantamentos feitos pelo MPF apontaram que a Secretária de Meio Ambiente do Estado não tinha estrutura suficiente para receber todos os licenciamentos no prazo, e os cadastros ambientais que foram feitos ainda não foram validados.  Dessa forma o prazo foi estendido, sem uma data para encerrar.

Segundo o procurador da república, Daniel Azeredo, o ponto principal do pacto "é zerar o desmatamento.  E pra zerar o desmatamento precisa desse cadastro ambiental rural e do compromisso dos municípios junto com os produtores".  Ele relata que até o momento nenhum prefeito expressou que não assinará o pacto, e os que ainda não o fizeram foi por terem dúvidas sobre o processo.

Compromissos Os municípios que assinaram garantiram às fazendas dentro de seus territórios mais tempo para providenciar a Licença: até agosto de 2011 para propriedades maiores que 3 mil hectares, até dezembro de 2011 para as que têm entre 500 e 3 mil hectares e até junho de 2012 para as menores que 500 hectares.

O pacto estabelece que só terão direito à prorrogação de prazos os proprietários rurais de municípios em que pelo menos 80% do território relativo a imóveis rurais privados e posses tiver sido registrado no cadastro ambiental rural até 30 de junho deste ano.

Outro ponto do pacto determina que a prorrogação vale apenas para municípios que não estejam inclusos na lista dos maiores desmatadores da Amazônia, elaborada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ou que deixem de fazer parte dessa lista dentro de um ano.  O Ibama considera grande desmatador o município em que houver mais de 40 km² de desmatamento por ano.

Veja entrevista abaixo com o Daniel Azeredo, procurador do MPF-PA:

Amazônia.org.br - Até o momento, quantos prefeitos assinaram o pacto?

Daniel Azeredo - Estamos tendo assinaturas diárias.  O número mais recente é de 35 municípios.  Também as federações assinaram, tanto a Federação dos Produtores Rurais, a FAEPA [Federação da Agricultura e Pecuária do Pará], quanto a federação dos municípios FAMEP [Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará].  A partir do momento que as duas federações assinaram, nessa segunda (31), a gente acredita que o número de municípios que vão aderir ao termo de compromisso vai aumentar durante o mês de fevereiro.

Amazônia.org.br - Mas o prazo final para os municípios assinarem não era dia 1º de fevereiro?

O que acontece com esse prazo?  É que pelo compromisso com os frigoríficos, o frigorífico só pode comprar de produtor rural com licença ambiental.  Para os municípios que estão entrando nesse novo termo de compromisso, esse prazo, do licenciamento ambiental, está sendo prorrogado.  Até porque a gente fez alguns levantamentos e alguns estudos e verificou que a Secretaria de Meio Ambiente do Estado não tem estrutura suficiente para receber esse licenciamento.  Então os cadastros ambientais que foram feitos, não foram ainda validados.

A partir de segunda-feira, o produtor rural de município que não assinou só vai conseguir vender a sua produção se estiver com o licenciamento ambiental da sua propriedade.  De qualquer forma, o município pode ainda, em qualquer momento, aderir ao termo de compromisso, e aí o produtor rural volta a poder comercializar sua produção sem ter a licença ambiental, ou melhor, tendo o compromisso de obter a sua licença ambiental, mas com um prazo maior.

Amazônia.org.br -Teve algum município, em especial, que ainda não assinou e que justificou o motivo por não ter assinado?

Não houve nenhum município que se recusou a assinar.  Eu tive uma reunião ontem (3) com o prefeito de Novo Repartimento, que é um município que está na lista dos que mais desmatam, e ele está disposto a assinar, mas quer que a assinatura seja precedida de uma audiência pública no município.  Então eu me comprometi com ele a realizar o evento, no final do mês, começo do próximo mês, e ele vai partir pro trabalho, até porque ele quer buscar o apoio do setor produtivo.  A gente tem entendido que não é o prefeito sozinho que vai fazer esse trabalho, tem que achar um consenso no setor.  Então alguns municípios estão fazendo esse tipo de solicitação, mas negativa expressa, dizer que não assina ou que não há vontade de fazer, a gente não recebeu de nenhum município.

Amazônia.org.br - Uma das metas desse pacto, a partir do momento que ele assina, é que o município saia dessa lista dos maiores desmatadores da Amazônia...

É!  Um dos pontos principais é zerar o desmatamento, é esse o objetivo que a gente quer alcançar em primeiro lugar.  E pra zerar o desmatamento precisa desse cadastro ambiental rural e do compromisso dos municípios junto com os produtores.

Amazônia.org.br - E o Pará é um dos Estados que mais enfrenta problemas com a pecuária e quase sempre é um dos que mais desmata a Amazônia.  Acha que será possível chegar ao desmatamento zero?

Desde que esse trabalho iniciou, nós estamos com o menor desmatamento da história.  Esse trabalho começou em 2009, e foi o que, pela primeira vez, o desmatamento ficou abaixo dos 10 mil quilômetros quadrados.  No ano seguinte, 2010, que terminou agora, a gente conseguiu manter esse desmatamento, inclusive foi abaixo do menor da história, alcançando um novo recorde.  Então acho que estamos no caminho certo, mas é claro que precisamos trabalhar muito para zerar, para realmente chegar a um número do desmatamento que possa ser próximo do zero.  Mas os resultados de queda de desmatamento já são significativos.

Amazônia.org.br - E será possível que a pecuária continue sendo viável economicamente?

É possível, a pecuária é uma das atividades que mais pode crescer em produtividade.  Por exemplo, algumas fazendas produzem 0,8 animais por hectares, mas outras produzem 7 animais por hectares.  Então com medidas de conscientização, com medidas de investimento em tecnologia, é possível sim se produzir mais e reduzir áreas de florestas desmatadas para a expansão da atividade pecuária, que é importante para o Estado.

Amazônia.org.br - Qual o próximo passo do MPF nesta campanha?

Agora é continuar trabalhando.  Temos ainda que resolver algumas pendências para que haja a adesão de todos os municípios do Estado do Pará, ou pelo menos de todos os municípios que a pecuária é a atividade econômica preponderante.  Vamos fazer algumas reuniões para tentar esclarecer alguns pontos, que ainda podem estar sendo poucos compreendidos e o próximo passo é auxiliar os municípios no cumprimento das metas que foram estabelecidas.  O Ministério Público Federal não vai ficar no papel passivo de agente fiscalizador apenas, mas a nossa ideia é trabalhar junto, em parceria com o município, para dar apoio e estrutura para que o trabalho realmente aconteça.

Amazônia.org.br - Haverá apoio financeiro para esse projeto?  Durante o período de inscrição, alguns municípios reclamaram que fazer o cadastro rural, que depende de um georreferenciamento, era caro e que não tinham como arcar com todas as despesas...

O cadastro ambiental hoje está gratuito, o produtor rural faz a inscrição na Sema, sem pagamento de qualquer tipo de taxa.  Há um custo de mobilização de pessoal, mas o governo do Estado do Pará tem se colocado a disposição para assumir grande parte desse custo.  Isso é um compromisso pessoal do governador, que deixou bem claro no discurso de assinatura, que essa é uma meta de governo, e já sinalizou em assumir algumas obrigações.  Por exemplo, já está lá no termo que o governo vai fazer o monitoramento do desmatamento, que antes estava sendo colocado aos municípios.

O que a gente tem tentado colocar para os prefeitos é o fato que o dinheiro que está sendo gasto nesse processo ambiental não é gasto, é um investimento.  Até porque municípios como Paragominas, que investiram dessa forma, hoje estão tendo uma arrecadação de investimentos, de tributos, que chega a alcançar, segundo as palavras do próprio prefeito em reunião, o dobro ou o triplo do que foi investido nesse trabalho.  De qualquer forma, se sinalizarem que pode haver dificuldade de recursos, o governo está disposto de entrar com uma parte nesses investimentos.

Fonte: Amazonia.org

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=377279
Local: São Paulo - SP
Fonte: Amazonia.org.br
Link: http://www.amazonia.org.br

A coruja e a (des)informação ambiental

 
FOTO:Ivan Ruela
IVAN RUELA


Era mais uma tarde típica de calor em Cuiabá, quando me deparei com uma cena, no mínimo, revoltante. Um rapaz de cerca de uns 30 anos, trajando uniforme de vigilante, tentando matar uma coruja jogando contra ela, uma garrafa PET. A tentativa de assassinato foi sob uma marquise de um supermercado, no pacato bairro chamado “Recanto dos Pássaros”, nesta capital. Em tempo! Antes de parecer um trocadilho, a Coruja é uma ave, não um pássaro. Pássaros são integrantes da ordem dos Passeriformes. Corujas são da ordem dos Strigiformes. Todo pássaro é uma ave, nem toda ave é um pássaro.

Sentindo-me incomodado e intrigado com essa situação, perguntei o porquê daquele ato, uma maldade com um ser indefeso. O vigilante cuiabano, explicou rebatendo: “Coruja não serve pra nada, come filhote de passarinho, é bicho feio e dá azar, tem que morrer mesmo”. Disse a ele que poderia ser abordado ou até preso porque aquilo que fazia naquele momento configurava em crime ambiental. “Crime ambiental? Não tem Polícia Ambiental no Mato Grosso, o Ibama não prende os madeireiros que estão destruindo a Amazônia, vão prender quem mata uma coruja? Eles deveriam me agradecer, porque este animal é uma praga!”. “Por falar em praga, as corujas são devoradoras de insetos, cobras e ratos”, expliquei ao impaciente vigilante. “Ratos? Ela come ratos? Odeio ratos! Meu irmão morreu de Leptospirose lá no “Nortão” (como se costuma chamar o norte do MT). Vou deixar essa bichinha em paz então.”

Tirei a foto da rapineira, e enviei a um amigo e Ornitólogo, Marcus Canuto, de Belo Horizonte. Trata-se da “Coruja buraqueira” (Athene cunicularia). Ela faz seu ninho em buracos no solo, aproveitando às vezes de tocas de animais, como o tatu. O casal se reveza nessa “engenharia”, alargando a cova para a reprodução. Decidi me informar melhor sobre a “Buraqueira”, para daqui pra frente, ter mais argumentos quando me deparar com uma situação parecida com a do vigilante, ou por pura curiosidade. Somos dotados de preconceito e de ignorância frente às questões ambientais, como por exemplo, as interações ecológicas. Isso se dá por preguiça intelectual ou por falta de informação mesmo. Outra questão que pude perceber neste bate papo, foi a descrença do brasileiro frente a alguns órgãos públicos, como o Ibama. A PM Ambiental, no Mato Grosso, ao menos, está em vias de ser reativada.

O humilde vigilante, distante destas informações, não tem culpa por não ter acesso a elas. Esse desafio pertence a um grupo de pessoas que precisam deixar vaidades de lado e atuarem de forma mais conjunta e abrangente numa multidisciplinar Informação e Educação Ambiental, seja formal ou informal, em todas as frentes. Biólogos, Gestores e Engenheiros Ambientais, Jornalistas, Advogados, Veterinários, Dirigentes públicos e universitários, Professores e Geógrafos, são atores fundamentais para o sucesso dessa jornada. Outros cidadãos sempre serão bem vindos nesta difusão.



* IVAN RUELA é Gestor Ambiental e Coordenador da Rede Brasileira de Informação Ambiental - Rebia, no Mato Grosso
Editor do eicaambiental.blogspot.com.br
ivan ruela25@yahoo.com.br

Twitter: ivanruela

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Um paraíso ameaçado

Foto: Ivan Ruela
Por Ivan Ruela - A RPPN SESC Pantanal é reserva particular dotada de grande beleza cênica e de privilegiados recursos naturais. Com 106.782 hectares, é a maior RPPN do Brasil. Situado na parte norte do Pantanal, a Unidade de Conservação foi reconhecida pelo IBAMA em 1998, como Reserva Particular do Patrimônio Natural. A área era formada por antigas fazendas de fazendas de gado, entre os rios Cuiabá e São Lourenço, no município de Barão de Melgaço-MT.


Com o objetivo de melhorar o manejo adequado da RPPN, o SESC foi buscar parcerias com pesquisadores de universidades e outras instituições. As intervenções feitas no manejo da reserva foram feitas com mínimo impacto nos ecossistemas ali existentes. Foram construídos 123 KM de cercas nos limites secos da unidade, com abertura de aceiros. As estradas vicinais, existentes há 30 anos, foram recuperadas pela instituição. Hoje já é possível percorrer os 145 km que separam a RPPN da cidade de Cuiabá, asfaltados.

Maior Planície alagada do Planeta, com 160.000 Km2, sendo que 140.000Km2 estão localizados no Brasil, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e 20.000Km2 no Paraguai e na Bolívia, o Pantanal tem sua área preservada em 2,9% em através de unidades de conservação, sendo que quase 25% desse total se localizam no SESC Pantanal.

A integração com a sociedade local também é louvável, com quadro de funcionários oriundos de Poconé e Barão de Melgaço, municípios do entorno da reserva. Os variados passeios promovidos pelo local, através de trilhas, barcos, cavalos pantaneiros, e até aéreos, são verdadeiros atalhos para vislumbrar as maravilhas existentes na região. Árvores como tarumãs e ipês, peixes como Pintado Dourado e Pacu, além de animais como garças, araras, tuiuús, antas, capivaras, jacarés, onças e cobras, podem ser observados nos arredores deste fantástico bioma, onde se localiza a reserva. Em 1997, por exemplo, existiam apenas 15 araras azuis na reserva. Este número passa hoje, de 500 espécimes.

Contudo, alguns problemas de ordem antrópica, trazem danos bastante perversos para a sobrevivência de algumas espécies, alem de afetar a saúde da população local. O Rio Cuiabá, que já perdeu grande volume de água, além de servir de “lixão” em boa parte da capital matogrossense, chega ao Pantanal com significativas alterações em seu leito, também provocadas pela monocultura de grãos nas cabeceiras, resíduos industriais e minerais, alem de contaminação feita por agrotóxicos, degradando também os solos.  A criação de gado na região, também gera um grande impacto, uma vez que extensas áreas são abertas, afetando a vegetação local. Outro gargalo que pode se notar ali é a falta de campanhas educacionais, com relação ao atropelamento de varias espécies, que trafegam na Rodovia Transpantaneira.

O SESC Pantanal é um grande avanço ecológico, turístico e social, para a região, atingindo alcance internacional. O poder público, ciente dos problemas hídricos da região, deveria colaborar e fazer parte deste sucesso, através de políticas públicas de saneamento e de gerenciamentos de resíduos, em conjunto com a sociedade civil, e de outras instituições. Os produtores rurais do Pantanal deveriam seguir exemplo dos nativos pantaneiros, utilizando produção de forma racional, poupando os recursos naturais, para que estes tenham vida mais longa, sendo benéficos para o desenvolvimento sustentável da região.

* Pós-Graduando em Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Florestais, Universidade Federal de Lavras-MG. Moderador e Coordenador da REBIA no MT. Editor da eicaambiental.blogspot.com.
Twitter: @ivanruela
E-mail: ivanruela25@yahoo.com.br