Páginas

sábado, 23 de abril de 2011

Novas hidrelétricas podem prejudicar ciclo das águas no Pantanal

Cheias e vazantes dependem da livre circulação dos rios.
Ministro argumenta que planejamento elétrico precisa ser cumprido.

foto:Embrapa Pantanal







O Pantanal vive dos rios que descem do Planalto Central do Brasil. A água se espalha pela planície em riozinhos - chamados corixos - baías e lagoas, antes de escoar para o Rio Paraguai. E é essa água, que passa devagar pela região, que proporciona a abundância de vida no Pantanal.
A passagem da água é lenta por uma razão: o Pantanal é praticamente plano. Em uma distância de um quilômetro na direção Norte -Sul, o declive é de 3 a 5 centímetros apenas.
Quando chove nas cabeceiras dos rios, o Pantanal enche. Na estiagem, ele seca. “O que é a vida do pantanal? É o que chamam de pulso. É a variação entre a seca e a cheia. Então, quanto mais pulsa, quanto mais varia, melhor”, resume o fazendeiro pantaneiro Armando Arruda Lacerda.
As hidrelétricas planejadas para região podem mudar essa característica? O pantaneiro acha que sim. Ele teme pela sobrevivência dos peixes.
“É o grande berçário, se você descer ai embaixo você vai ver que é um berçário, você vai ver todas as espécies de peixe em... tamanho pequeno, vamos dizer assim. E é isso que alimenta...vai realimentar toda a indústria do turismo de pesca, todo o restantes lá dos rios. Esse peixe cria aqui e vai para o rio”, explica Lacerda.
O corixo não é fundo e provavelmente fica seco durante parte do ano. Quando enche, os peixinhos encontram todos os alimentos de que precisam para crescer. Parece um aquário: corimbatás, piaus, piraputangas, lambaris, piranhas, cascudos e uma arraia que, com astúcia, tenta se esconder.
Quando adultos, os peixes criados no corixo sobem os rios para a área de reprodução. Só não chegam lá quando encontram obstáculos: uma cachoeira alta ou uma usina.

Rio Coxim
Uma das hidrelétricas em estudo fica no Rio Coxim, um dos melhores pontos de pesca de Mato Grosso do Sul. O marco mostra onde o rio seria cortado pela barragem.
Se a usina for aprovada, o reservatório vai cobrir a Cachoeira dos Quatro Pés. O pescador Tião está revoltado: “Tudo debaixo da água. Aqui vai virar uma represa de 300 a 400 hectares. Todas essas pedras aqui vão pegar a inundação"
O engenheiro Dorival Gonçalves Jr, professor da Universidade Ferderal de Mato Grosso, acha que o custo ambiental não compensa os benefícios.
"Itaipu o ano passado verteu cerca de 400 mW médios. Se a gente somar todo o potencial das bordas do Pantanal não vai alcançar isso", diz.


Pequeno porte


Das 62 hidrelétricas previstas para a região nos próximos nove anos, só uma é de grande porte. As outras são pequenas centrais com produção irrisória. Se todas forem construídas, irão contribuir com apenas 1,33 % da energia hidrelétrica gerada no país.
E o período em que elas mais produzem é exatamente quando grande parte das usinas brasileiras estão com os reservatórios cheios, jogando água em excesso pelos vertedouros.
Para o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o Brasil não pode abrir mão de qualquer potencial energético, mesmo que pequeno: “Se nós abdicamos daqui, abdicamos dali, abdicamos de acolá, sob os mais diferentes argumentos - ainda que alguns deles procedentes, como é o caso, por exemplo, do Pantanal (...) vamos acabar não cumprindo o nosso planejamento energético brasileiro”.

fonte:Do Globo Natureza, com informações do Jornal Nacional

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sistemas agroflorestais podem recuperar solos degradados


Foto:Divulgação


O capixaba Miguel Cavalini Calvi trocou a cultura do café no Espírito Santo por uma propriedade de 200 hectares para produzir gado na região da Transamazônica, no Pará, em 1989. Quando chegou à região, a propriedade já estava com metade da área desmatada e hoje a mata não chega a 15%. Nesses anos, Calvi conseguiu criar os três filhos, dois deles já com curso superior, mas tem visto a produtividade de sua terra cair, sem ter mais terra para abrir, como acontece com a maior parte de seus vizinhos.
Como voluntário de um programa da Universidade Federal do Pará, em Altamira, passou a receber estudantes de agronomia, que passam uma semana na casa de agricultores familiares a cada ano.Também com os filhos formados em ciências naturais e agrárias, senhor Miguel, como é conhecido, começou a perceber que a maneira como se lida com a terra na região poderia não ser a ideal. “Acontece que uma terra desmatada há 30 anos, com gado em cima, é muito difícil de ser recuperada”, disse.
Foi assim que topou a proposta de participar do projeto de recuperação de áreas degradadas através de Sistemas de Agroflorestas (SAFs), onde o cacau é plantado em consórcio com outras espécies nativas com potencial econômico. Desenvolvido pelo IPAM, em parceria com a Universidade Federal do Pará e a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), o projeto envolve 15 núcleos, nos municípios de Uruará, Medicilândia, Altamira e Anapu, cada um com cinco agricultores. Em cada núcleo, a equipe do projeto faz o plantio de 3.300 pés de cacau numa área de 3 hectares.

Espécies consorciadas
Com financiamento da Petrobras, o projeto está terminando os plantios de cacau, associado a espécies como banana, mandioca e feijão guandu. A ideia é que, após o crescimento do cacau (o que leva aproximadamente três anos), se introduza pelo menos seis espécies nativas da Amazônia e de interesse econômico, como mogno, castanha-do-pará, taperebá, ipê-roxo, ipê-rosa, cumaru, andiroba, jenipapo, copaíba e açaí.
Segundo Sebastião Augusto, professor da Universidade Federal do Pará e responsável técnico do projeto, se espera, ainda, que haja uma regeneração espontânea com outras espécies, que também serão incluídas no SAF. “Queremos recuperar área de pasto degradado transformá-la em agrofloresta. Para que isso aconteça, a primeira coisa é reflorestar. No entanto, o agricultor precisa ter renda e o cacau é uma alternativa”, disse.
Augusto afirma, ainda que a ideia é que o agricultor vá ampliando a área de SAF e a anexe às suas áreas ainda florestadas. “É uma alternativa para a região, que tem um passivo ambiental muito grande e precisa se adequar às leis ambientais”, explica o professor.

Passivo ambiental
Segundo Augusto, o projeto partiu de uma demanda dos próprios agricultores, levantada pelos alunos da universidade durante seus trabalhos de campo. “O primeiro ponto é o passivo ambiental. Quando chegaram aqui, os produtores desmatavam para plantar mandioca e conseguiam mais de 100 sacas de farinha em um hectare. Hoje, com o desgaste do solo, conseguem apenas de 30 a 40 sacas”, explica
O desafio é conseguir, a partir dessa experiência pioneira, trabalhar com os latossolos ácidos e de baixa fertilidade da região. “Havia resistência de plantar cacau nessa área. Um agricultor havia plantado 2.500 pés e mais de 50% estava morrendo em um ano. Começou a procurar informação e passamos a pensar em uma maneira de resolver. Pedimos para abrir área para pesquisa em 2004 e começamos o trabalho, que foi a base para o projeto atual.
O projeto conta, também, com a coordenação técnica do professor Índio Campos, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) da Universidade Federal do Pará, e com apoio da Ceplac, que além do conhecimento técnico, fornece sementes melhoradas. A coordenação geral do é do IPAM e envolve técnicos e estudantes de agronomia da UFPA.
Nos planos do agricultor Miguel está, também, fazer irrigação em sua plantação e chegar a 4.500 pés de cacau. Se conseguir o retorno que espera, pretende diminuir ainda mais a área de pastagem – já está substituindo o gado de corte pelo leiteiro – e plantar milho, cana e um pouco de café. “Quero diversificar. Estou deixando de roçar nas nascentes e próximo aos igapós. Sei que preciso reflorestar”, disse o agricultor.

http://www.ipam.org.br/

Entra em vigor lei que proíbe sacola plástica em BH

* Priscila Trindade
 
Foto: Divulgação
Entra em vigor hoje a Lei 9.529/08, que determina a substituição de sacolas plásticas convencionais por produtos ecológicos em lojas e supermercados de Belo Horizonte (MG). A medida vale para farmácias, supermercados, lojas e padarias.
A legislação foi publicada no Diário Oficial do Município no último dia 13. Os consumidores poderão comprar as sacolas biodegradáveis, que causam muito menos danos ao meio ambiente, mas são mais caras do que as de plástico. A expectativa é de que cerca de 450 mil sacolas plásticas deixem de ser consumidas por dia na cidade.

De acordo com o texto da lei, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente ficará responsável por fiscalizar o cumprimento da norma. Os estabelecimentos que não respeitarem a regra receberão multa R$ 1 mil, dobrada em caso de reincidência. Se a irregularidade persistir, o estabelecimento poderá ser interditado e até mesmo ter o alvará de localização e funcionamento cassado.

Discussão

A cobrança das sacolas em supermercados do município será discutida em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, no dia 26. Participarão da reunião representantes do Procon Municipal, Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor e Associação Mineira de Supermercados.

* Agência Estado