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sexta-feira, 25 de março de 2011

A revolta no grande projeto

 Lúcio Flávio Pinto


foto:rondonoticias.com.br

Duas das maiores obras em andamento no Brasil foram paralisadas na semana passada. Se fossem localizadas no sul do país, a grande imprensa nacional certamente daria o destaque compatível com a gravidade do acontecimento. Mas como os fatos se deram em Rondônia, no extremo oeste, o noticiário foi pequeno e insatisfatório.

Quando concluídas, as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, terão absorvido em torno de R$ 30 bilhões, um custo equivalente ao da hidrelétrica de Belo Monte, que, se for construída mesmo, será a segunda maior do mundo – ao menos em capacidade nominal de geração de energia.
Como a usina do rio Xingu, no Pará, as duas barragens estão sendo levantadas depois de provocarem extensos e apaixonados debates sobre a inconveniência de colocar duas estruturas de concreto sobre o leito do rio que mais contribui em águas e sedimentos para o maior curso d’água do planeta, o Amazonas.
Três anos depois de iniciadas, as duas obras seguem uma tramitação acidentada e conflituosa. Desde 2009 seus operários fazem manifestações de protesto e reclamam dos salários, dos maus tratos e das condições de trabalho. A tensão veio num crescendo. Mas ao assumir sua forma mais grave, no dia 13, surpreendeu a todos por sua extrema violência.
Em dois dias de depredações, o canteiro de obras de Jirau foi quase todo destruído e os empregados, desmobilizados. Por cautela, os responsáveis por Santo Antônio, rio abaixo, decidiram também parar. Quase 30 mil pessoas empregadas nas duas obras tiveram que suspender suas atividades.
Incidentes têm sido uma constante nos “grandes projetos”. Houve quebra-quebra em Tucuruí, no Jari, no Trombetas ou em Carajás. Mas nada na escala do que aconteceu no Madeira. Nem com as características que ali elas assumiram. Os operários estavam insatisfeitos e até revoltados, mas a esmagadora maioria ficou fora dos atos de destruição, principalmente através de incêndios provocados. Muitos ficaram apavorados com o que viram e preferiram voltar aos seus locais de origem.
Segundo os responsáveis pela segurança no canteiro, os líderes das hostilidades adotaram uma tática original: atacavam e depois se escondiam no mato próximo. Os representantes sindicais não aprovaram a virulência empregada. A polícia foi violenta, mas não eficiente: não só não evitou a destruição como não chegou a identificar os que a provocaram. A decisão de desmobilizar a frente de trabalho também surpreendeu. Aparentemente, as autoridades e a empresa se sentiram impotentes para prevenir, remediar e reassumir o controle da situação o mais rápido que fosse possível.
Um incidente tão grave, a ponto de paralisar por completo as obras, contrastou com o ritmo intenso dos serviços até então. Os concessionários das duas usinas manifestaram a disposição de investir dois bilhões de reais além do orçamento definido para aumentar a capacidade de geração de energia e antecipar os prazos do cronograma. Jirau pretendia entrar em operação em setembro de 2015, mas o consórcio Energia Sustentável já trabalhava com a data de março do próximo ano. Em relação à estimativa original, o custo atualizado quase dobrou, para R$ 29,4 bilhões.
As modificações feitas na concepção que foi aprovada pelo governo para a outorga das duas concessões parecem determinadas por um fator fundamental: a subestimação dos custos. O consórcio que ganhou o leilão de Jirau se comprometeu com um deságio de 35% em relação ao preço mínimo fixado. Terá que oferecer energia a R$ 71 ou R$ 78 por megawatt/hora.
No último leilão promovido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), no final de dezembro do ano passado, o preço do MWh ficou em R$ 67,31, o mais baixo de todos os leilões de energia nova já realizados. E nem toda a energia ofertada foi arrematada.
Surpreendentemente, porém, a concessão da hidrelétrica de Teles Pires, a primeira das cinco usinas previstas para o rio Tapajós, também no Pará, foi obtida pelo consórcio Teles Pires Energia Eficiente por apenas R$ 58,35 o MWh, com deságio de 33% em relação ao valor mínimo estabelecido.
Certamente a redução teve a ver com a disputa pela concessão, já que, no mesmo dia, o vencedor da licitação para a usina de Santo Antônio, no rio Jari, ainda no Pará, ficou no preço mínimo, de R$ 140 (por se tratar de uma hidrelétrica de baixa capacidade, de apenas 300 MW), sem qualquer deságio.
O que se pode deduzir de fatos desconexos ou aparentemente irracionais é que o governo abriu uma frente de construção de hidrelétricas tão vasta e pesada na Amazônia que não consegue mais controlá-la. Às vezes sequer se pode discernir as informações exatas para uma avaliação segura e confiável do que ocorre.
Os consórcios que constroem as duas usinas do Madeira, porém, não desconhecem seus desafios e o significado do que estão fazendo. Não por acaso assinaram os dois maiores contratos de seguro em vigência no Brasil, no valor de quase R$ 17 bilhões. Os seguros incluem as fases de construção e operacional, além dos lucros cessantes por interrupção do negócio, como deve ser o caso dos incidentes em Jirau (calcula-se um prejuízo operacional diário de R$ 500 mil, fora os danos no canteiro). Os custos bilionários das duas usinas não incluem os juros durante a construção, as obras de transposição das duas barragens (pelo menos R$ 700 milhões) e as linhas de transmissão de energia.
Para alguns desses itens, é muito provável que o governo federal seja chamado a dar mais uma “colaboração”, que poderá crescer em função de ocorrências como a depredação do canteiro de Jirau. O incidente se transformou em caso de segurança pública (e pode ser um rastilho de pólvora numa região sempre conturbada, cuja condição a imigração intensiva nos últimos três anos agravou bastante).
O esquema societário dos consórcios que receberam as concessões é um fator de indução a esse desdobramento. Uma empresa estrangeira ou uma empreiteira têm o controle do capital, com mais de 50% das ações. Empresas estatais, do sistema Eletrobrás, fazem grande aporte de capital, subsidiadas pelo BNDES (que, em função das vultosas transferências feitas pelo tesouro nacional, se tornou maior do que o Banco Mundial), e agentes financeiros internacionais completam a quadratura do círculo.
Não surpreende que, enfrentando muitas e múltiplas reações, as obras das grandes hidrelétricas avancem como se quisessem resolver suas dificuldades com seus bulldozzers. Dispostas a passar por cima de quem estiver na frente. Os acontecimentos de Rondônia, porém, indicam que a barreira a superar é bem maior do que se presume.

yahoo.com.br

Livro relata trabalho de educação agroflorestal realizado pelo ICV

 Daniela Torezzan / ICV

Acaba de ser lançada a publicação "Agrofloresta como Ferramenta para Restauração da Paisagem", que compila uma série de artigos da seção técnica do Segundo Congresso Mundial de Agrofloresta (2nd. World Agroforestry Congress -  "The future of global land use"), realizado em agosto de 2009, no Quênia.

O livro é composto por 5 seções com 14 capítulos cada. Os artigos selecionados oferecem uma visão sobre os recentes esforços na aplicação de tecnologias agroflorestais para a restauração da paisagem em áreas degradadas localizadas em regiões tropicais e temperadas ao redor do mundo.


O Instituto Centro de Vida (ICV) contribuiu com o Capítulo 14 (Agroforestry educational experiences for smallholders involved in biodiversity conservation and landscape restoration in the Xingu Watershed – Mato Grosso, Brazil) escrito e apresentado por Camila Horiye Rodrigues. O texto apresenta a experiência de educação agroflorestal do Programa de Agentes Socioambientais do Manissauá-miçu (ASA - MANITO), realizado na bacia do rio Xingu em Mato Grosso, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) como parte da Campanha Y' Ikatu Xingu.

http://www.icv.org.br/

quinta-feira, 24 de março de 2011

CIENTISTAS ANUNCIAM PLANO PARA PROTEGER “CARBONO AZUL” DA TERRA



Ação Urgente é Necessária para Desacelerar as Emissões de Carbono Causadas pela Destruição e Degradação dos Ecossistemas Marinhos- que armazenam até 50 vezes mais carbono do que florestas


24 de março de 2011 (Arlington, EUA/Gland, Suíça/Paris, França) - A destruição dos ecossistemas costeiros como manguezais, brejos e terrenos alagadiços à beira mar, que armazenam grande quantidade de carbono, está liberando grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) no oceano e na atmosfera, de acordo com o Grupo de Trabalho Internacional para Carbono Azul Costeiro.

O grupo, formado por 32 cientistas de 11 países, revelou em reunião em Paris que o conhecimento existente sobre estoques de carbono e emissões causadas pela degradação ou conversão de ecossistemas costeiros é “suficiente para justificar ações imediatas de melhoria do manejo desses ecossistemas”.

O Grupo de Trabalho foi criado como um passo inicial no avanço das metas científicas, políticas e de manejo da Iniciativa Carbono Azul, cujos membros fundadores incluem a Conservação Internacional (CI), a União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês), e a Comissão Intergovernamental Oceanográfica (IOC) da UNESCO.  

Apelidado de “carbono azul” por sua habilidade de seqüestrar e armazenar grandes quantidades de carbono, tanto nas plantas quanto nas camadas mais profundas do solo, esses ecossistemas marinhos podem conter até cinco vezes mais carbono do que em florestas tropicais. Em algumas áreas eles contêm até 50 vezes mais carbono do que em algumas áreas de florestas.

“Há algum tempo já sabemos da importância dos ecossistemas costeiros para a pescaria e a proteção contra tempestades e tsunamis. Agora estamos vendo que, se destruídos ou degradados, esses ecossistemas costeiros se tornam grandes emissores de CO2, e essa emissão é feita de forma lenta, por muitos anos. Em outras palavras, é como uma hemorragia longa e lenta, difícil de estancar. Então, precisamos urgentemente interromper a perda desses ecossistemas ricos em estoque de carbono para desacelerar as mudanças climáticas”, afirma a Emily Pidgeon, diretora do Programa Marinho de Mudanças Climáticas da Conservação Internacional.

A drenagem de terrenos alagadiços à beira-mar, como manguezais e brejos, libera um quarto de milhão de toneladas de CO2 por quilômetro quadrado para cada metro de solo que é perdido.  Dados globais mostram que brejos e manguezais estão sendo degradados ao longo das regiões litorâneas de todo o mundo a um ritmo acelerado.  Entre 1980 e 2005, 35 mil quilômetros quadrados de manguezais foram destruídos globalmente – uma área do tamanho da Bélgica. Essa área ainda continua a liberar até 0.175 giga-toneladas de CO2 a cada ano – equivalente às emissões anuais de países como a Holanda ou a Venezuela.

“Estudos científicos têm demonstrado que, apesar de alguns manguezais, terrenos alagadiços e brejos representarem menos de 1% da biomassa total das plantas em terra e em florestas, neles circulam quase a mesma quantidade de carbono que os 99% restantes. Dessa forma, o declínio desses ecossistemas tão eficientes em estocar carbono é uma causa válida de preocupação”, alerta Wendy Watson-Wright, diretor da IOC.

No decorrer de 3 dias de reuniões em Paris, cientistas apresentaram as prioridades e recomendações para ações imediatas, que incluem:

·         Intensificação nas pesquisas nacionais e internacionais: tais como desenvolvimento de metodologias de inventário e contabilidade para carbono costeiro; realização de inventários de carbono; realização de pesquisa e monitoração para quantificar com mais precisão as emissões de gases de efeito estufa causados pela perda de ecossistemas costeiros; e o estabelecimento de rede de demonstrações em campo para aumentar a capacitação e colaboração de comunidades.
·         Melhoria do manejo local e regional: tais como identificar e reduzir as principais causas da degradação de sistemas costeiros ricos em carbono – entre elas o desenvolvimento urbano, a agricultura, a aquicultura, a poluição, a drenagem e a introdução de construções artificiais –, o reforço das políticas de proteção de sistemas costeiros ricos em carbono e a restauração de sistemas perdidos/degradados.
·         Maior reconhecimento internacional dos ecossistemas costeiros ricos em carbono: por meio de entidades internacionais estabelecidas tais como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) e a Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

Os cientistas enfatizaram que a melhoria no manejo de ecossistemas costeiros não visa a se tornar um bloqueio para o desenvolvimento dos países, e sim uma estratégia para priorizar a conservação de zonas costeiras específicas, únicas, de alto potencial para estocar CO2.  Eles recomendam que os tomadores de decisão reconheçam mais os serviços vitais que essas áreas oferecem à humanidade e priorizem sua proteção.

“A capacidade das zonas costeiras de reduzir a mudança climática ao capturar e armazenar CO2 é considerável, mas tem sido ignorada”, declara Jerker Tamelander, gerente de Oceanos e de Mudança Climática da IUCN. “Se valorizados e geridos adequadamente, os ecossistemas costeiros podem ajudar muitos países a cumprir com suas metas de mitigação ao mesmo tempo em que ajudam com a adaptação em áreas costeiras vulneráveis.”

O grupo de trabalho se reunirá novamente em agosto e continuará seu estudo científico colaborativo. A Fundação Waterloo, a NASA e o Programa Ambiental das Nações Unidas (Pnuma) financiaram os trabalhos do grupo.

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Para ler todas as recomendações dos cientistas, visite: http://bit.ly/gJoT7k
Imagens disponíveis para download: http://smu.gs/hTUS7e


Para solicitações de entrevistas e mais informações: 

Gabriela Michelotti – gerente de comunicação da Conservação Internacional
Tel. +55 61 3226-2491 g.michelotti@conservation.org

Kim McCabe, diretora de comunicação da Conservação Internacional
Tel. +1 703-341-2546; kmccabe@conservation.org

Borjana Pervan, assessor de imprensa da IUCN; t +41 22 999 0115, borjana.pervan@iucn.org

Agnes Bardon, assessor de imprensa da UNESCO
Tel. +33 (0)1 45 68 17 64, a.bardon@unesco.org

quarta-feira, 23 de março de 2011

Livro desvenda as ações ilegais na floresta e debate o uso responsável da madeira





Publicação retrata o cenário da madeira amazônica, mergulha no submundo da ilegalidade e fortalece o debate sobre produção e consumo sustentáveis


No dia 29 de março, a Rede Amigos da Amazônia, uma iniciativa dos Centros de Estudo em Sustentabilidade e em Administração Pública e Governo da Fundação Getulio Vargas, lança a publicação “Madeira de Ponta a Ponta: O caminho desde a floresta até o consumo”, que retrata o cenário da produção, beneficiamento, transporte e comercialização da madeira no Brasil e destaca o importante papel do poder público como regulador e comprador responsável de madeira nativa da Amazônia.

A obra faz um panorama desde as florestas no mundo e seus serviços ambientais até os desafios e barreiras à produção e consumo responsável de madeira. São apontados os esforços no controle e aplicação de tecnologias para uma melhor gestão pública, buscando gerar menos conflitos na floresta, menos emissões de gases de efeito estufa e reverter a grande evasão fiscal decorrente da exploração ilegal de madeira.

“Compreender a complexidade da cadeia produtiva da madeira e as diferentes modalidades de fraudes praticadas é a nossa contribuição para aqueles que, de alguma forma, atuam para combater a ilegalidade desde a produção na floresta até o consumo final, seja no setor público, privado ou na sociedade civil”, destaca Malu Villela, coordenadora da Rede Amigos da Amazônia e uma das autoras do livro. “Com isso, esperamos resgatar a importância da madeira para as compras públicas e o mercado da construção civil, bem como posicionar o manejo florestal sustentável como importante ferramenta para a conservação e gestão da floresta”, completa.

Rica em ilustração e infográficos, “Madeira de ponta a ponta” é uma publicação conduzida como uma reportagem, que reúne entrevistas com especialistas e atores envolvidos na cadeia da madeira e traz uma série de dados recentes sobre a exploração madeireira no mundo e na Amazônia. Em especial, o livro explora informações sobre a evasão fiscal decorrente do comércio ilegal da madeira no país, o que, atualmente, corresponde a um valor superior ao orçamento do governo federal para a gestão e manejo de parques, florestas e demais áreas protegidas nacionais. É apresentada, ainda, uma reflexão sobre o tema das mudanças climáticas ao abordar o manejo florestal madeireiro e seus benefícios econômicos no mercado de carbono.

O evento de lançamento será realizado no auditório da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, e contará com a participação do jornalista Sergio Adeodato, um dos autores e principal condutor das entrevistas para o livro, que envolveram incursões em diferentes regiões da Amazônia. Participarão o secretário de Florestas do Acre, Sr. João Paulo Mastrangelo, o embaixador Britânico no Brasil, Sr. Alan Charlton e um representante da secretaria de meio ambiente do estado de São Paulo e da prefeitura de São Paulo, que debaterão o tema junto à plateia.

“Madeira de Ponta a Ponta” é uma publicação idealizada pela Rede Amigos da Amazônia com financiamento do Department for Environment, Food and Rural Affairs (Defra) do Governo Britânico e apoio da Comissão Europeia.

Serviço
Lançamento “Madeira de Ponta a Ponta”
Data: 29 de março de 2011 (terça-feira), das 8h30 às 12h.
Local: Auditório Itaú - Fundação Getulio Vargas - Av. 9 de Julho, 2029

Contatos para a imprensa
Rafael Murta Reis
11 3284 0754
11 3799 3342
Rafael.reis@fgv.br

Notas Verdes

1- Desastres naturais mudam percepção sobre ambiente, diz estudo
 
O resultado já era esperado, mas até agora os cientistas não tinham pesquisas suficientes para provar isso.
Quem já sofreu com eventos climáticos extremos tem maior tendência a se preocupar com o aquecimento global e a poupar energia.
Foi o que concluiu uma pesquisa feita com 1.822 pessoas em várias partes do Reino Unido, publicada esta semana na revista “Nature Climate Change”.
Segundo ela, as pessoas que enfrentaram enchentes e outros desastres naturais comumente associados ao aquecimento global ficam mais inclinadas a tentar evitá-lo, tomando medidas ativas, como a redução do uso de energia.
Inimigo íntimo – De acordo com vários cientistas sociais, a visão das consequências do aquecimento global como algo que acontece em locais muito distantes, ou mesmo daqui a muitos anos, acaba não motivando as pessoas a agir.
“Viver eventos climáticos extremos tem o potencial de mudar a maneira como as pessoas veem as mudanças climáticas, tornando-as mais reais e tangíveis e, finalmente, motivando-as a agir de forma mais sustentável”, diz Alexa Spence, da Universidade de Nottingham, chefe do trabalho.
Na última década, o Reino Unido enfrentou uma série de fortes tempestades, seguidas de grandes enchentes. Das pessoas que responderam ao questionário, 20% tinham vivido essa experiência recentemente.
O estudo revela que quem teve contato direto com as enchentes percebe o aquecimento global de forma significativamente diferente daqueles que nunca viveram essa realidade.
Em um resultado quase inesperado, essas pessoas também se mostraram mais confiantes em relação ao impacto de suas atitudes para evitar futuros desastres.
Assim, elas se disseram mais dispostas a realizar ações como diminuir a temperatura do termostato e evitar deixar aparelhos eletrônicos ligados quando não estivessem sendo usados.
Várias pesquisas semelhantes feitas em outras partes do mundo falharam em demonstrar essa ligação.
De acordo com um artigo crítico na mesma revista, isso aconteceu devido ao universo de pessoas avaliadas, que não teria sido amplo e representativo o suficiente. No caso da atual pesquisa, isso não aconteceria, o que tornaria o atual resultado bastante confiável.
Cientistas das universidades de Nottingham e de Cardiff, que conduziram o trabalho, dizem esperar que as novas informações descobertas no trabalho possam ser usadas para criar campanhas e estratégias de engajamento mais eficazes contra o aquecimento global. (Fonte: Folha.com)

2- Japão detecta excesso de radiação em leite e espinafre
 
Amostras de leite e espinafre das cidades de Fukushima – palco do acidente nuclear na usina de Daiichi por conta do terremoto de magnitude 9 – e Ibaraki, no Japão, apresentaram excesso de radiação, afirmaram autoridades japonesas neste sábado (19). O governo também afirmou que as águas correntes de Tóquiio e de cinco províncias do país também apresentam pequenas amostras de iodo radioativo e césio, porém sem risco à saúde humana.
O porta-voz do governo Yukio Edano afirmou que a radiação estava acima dos padrões regulamentados no país. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA), o Ministério da Saúde do Japão solicitou uma investigação sobre produtos alimentícios vindos de Fukushima (A AEIA havia informado anteriormente que a venda dos produtos havia sido suspensa. A agência divulgou a correção desta informação às 13h30 deste sábado).
A AEIA também confirmou a contaminação por iodo radioativo. Segundo a agência da ONU, amostras de comida nos arredores de Fukushima foram analisadas entre 16 e 18 de março.
Apesar da meia-vida do elemento presente nos alimentos ser de apenas 8 dias, as autoridades japonesas afirmam que há risco aos consumidores no curto prazo.
Quando ingerido, o iodo radioativo pode ser acumulado e causar danos à glândula tireoide. Para combater esse efeito, o governo japonês recomendou a distribuição de cápsulas de iodo estável (não radioativo) aos refugiados da área de 20 quilômetros ao redor de Fukushima, para evitar que o material radioativo seja absorvido.
Edano disse que o governo foi informado na sexta-feira (18) que altos níveis de radiação foram detectados em leites de vacas em uma fazenda na cidade de Fukushima, segundo informou a rede de televisão “NHK”. O porta-voz ainda divulgou que o governo recebeu a informação de que seis amostras de espinafre testadas em um instituto de pesquisa na cidade de Ibaraki continham níveis mais altos de radiação do que o padrão oficial.
Segundo a “NHK”, o ministro da Saúde do Japão pediu que Ibaraki identifique onde essas amostras de espinafre foram retiradas e qual é sua rota de distribuição. (Fonte: G1)

3- Com toneladas de água, Japão reduz ligeiramente radiação em usina

Depois de lançar toneladas de água nos reatores da usina de Fukushima Daiichi, no Japão, a operadora Tokyo Electric Power (Tepco) conseguiu baixar ligeiramente os níveis de radiação no local.
Segundo a TV japonesa NHK, os níveis caíram cerca de 20 pontos, para 292 microsieverts – um índice ainda muito acima do nível de radiação normal de 0,035 microsievert por hora.
As equipes lançaram cerca de 64 toneladas de água no reator 3, com helicópteros e caminhões de combate a incêndio das Forças de Autodefesa (equivalente ao Exército). Um caminhão com jato de água da Polícia Metropolitana, utilizado para conter motins, também foi utilizado na operação.
A companhia disse mais cedo que o vapor que saía do reator 3, parcialmente destruído, estava menos tóxico, o que sugere que a piscina foi efetivamente resfriada. Caso a temperatura não tivesse diminuído, a piscina emitiria um número maior de materiais radioativos.
Durante a reunião da cúpula da força-tarefa o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, chegou a agradecer a equipe pelo empenho em “operações tão perigosas”.
Diante do sucesso da operação, o secretário do Gabinete Yukio Edano disse a repórteres que o lançamento de água deve continuar nesta sexta-feira. O objetivo primário é impedir qualquer vazamento massivo de materiais radioativos da piscina para o ar.
O aumento da temperatura da água desta piscina, normalmente de 40ºC, faz com que a água se dissipe e exponha as varetas de combustível nuclear usado. Sem o líquido, que as isola do exterior, elas ficam então suscetíveis às altas temperaturas e podem derreter. No pior dos cenários, podem liberar material altamente radioativo.
A mesma fumaça branca vista no reator 3 foi confirmada no reator 2, sugerindo que a piscina de combustível usado também pode estar em ebulição.
As autoridades estão preocupadas ainda que este mesmo processo esteja ocorrendo no reator 4, já que a piscina teria ficado exposta com a explosão de hidrogênio no começo da semana. Segundo a agência nuclear japonesa, os esforços de injeção de água fria vão focar também neste reator.
Energia – Em outra boa notícia, o Japão informou que engenheiros conseguiram colocar um cabo de energia da rede externa do reator 2 da usina nuclear de Fukushima Daiichi.
“Eles planejam religar a energia na unidade 2 assim que o lançamento de água sobre o reator 3 estiver finalizado”, disse a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), em um comunicado, com base em informações cedidas pelo governo japonês.
O cabo, de mil metros de extensão, ligará a rede principal de energia ao reator para tentar reativar o funcionamento das bombas de água responsáveis pelo resfriamento do reator 2 –que foram desligadas depois do terremoto e tsunami da última sexta-feira (11).
A agência nuclear do Japão disse que o reator 2 foi o primeiro a receber eletricidade porque sua cobertura não foi afetada.
Sério, mas estável – Mais cedo, a AIEA informou que a situação nos reatores danificados da usina nuclear continua sendo “muito séria”, embora não tenha piorado desde a última quarta-feira (16).
Graham Andrew, assessor do diretor-geral da AIEA, declarou à imprensa que a situação no reator quatro da usina é a ‘de maior preocupação’, já que não se sabe nada sobre o nível de água nos reservatórios de combustível nuclear e nem sobre sua temperatura desde 14 de março. Os especialistas da AIEA não descartam que esteja fervendo, o que aumentaria drasticamente a temperatura e pressão e poderia causar uma explosão.
A situação dos reatores 1, 2 e 3 é “relativamente estável”, disse Andrew. Já a temperatura nas piscinas de resíduos nucleares dos reatores 4, 5 e 6 é muito superior ao permitido, chegando ao triplo do recomendado.
Em todo caso, o especialista da AIEA advertiu que ainda é ‘muito cedo’ para poder dizer que há esperança para a crise nuclear em Fukushima.
“É provável que [a situação] não tenha piorado, mas ainda é possível que piore. Não quero especular”, disse Andrew, que está a caminho do Japão, onde o diretor-geral, Yukio Amano, pretende visitar pessoalmente o local. (Fonte: Folha.com)

4- Nuvem radioativa chegará à Europa, dizem especialistas franceses
 
Especialistas franceses afirmam que uma nuvem radioativa causada pelas explosões na central de Fukushima Daiichi, no Japão, deverá chegar à Europa na próxima semana, mas estimam, no entanto, que ela não será nociva à saúde.
Segundo Jean-Marc Peres, chefe do serviço de fiscalização da radioatividade no meio ambiente do Instituto de Radioproteção e Segurança Nuclear (IRSN) da França, “é muito provável que a nuvem seja detectada a partir da próxima semana no território francês”.
O IRSN criou o site “Criter Japon”, que permite à população ter acesso ao nível de radiação na França. A radiação é medida por sensores espalhados pelo país quase em tempo real, com apenas uma hora de defasagem em relação à coleta dos dados.
O site mostra as áreas do país onde estão situados os sensores, e legendas em cores explicam os níveis de radioatividade.
O site “Criter Japon” tem tido “um número tão grande de acessos” que tem ficado fora do ar, informa o IRSN.
O especialista do instituto afirma, no entanto, que em razão do fenômeno de dispersão das partículas radioativas durante o trajeto de vários milhares de quilômetros entre o Japão e a Europa, “é certo que o nível de radioatividade da nuvem ficará abaixo do limite nocivo à saúde”.
Em um debate no Parlamento francês na quarta-feira, a ministra do Meio Ambiente, Nathalie Kosciusko-Morizet, também não excluiu a possibilidade de que a Europa seja afetada pelo acidente nuclear em Fukushima, mas afirmou que o impacto radioativo “não deverá causar problemas”.
Iodo – O governo francês pediu na quarta-feira ao órgão responsável por urgências de saúde no país para fazer um levantamento do estoque de pastilhas de iodo na França, substância que impede que a radioatividade tenha efeitos sobre a tiroide.
O objetivo, segundo as autoridades, é determinar se a França está pronta para enfrentar a passagem de uma nuvem radioativa, ou mesmo uma catástrofe nuclear.
Segundo jornais franceses, várias pessoas já procuraram comprimidos de iodo em farmácias.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, organizou na quarta-feira uma reunião ministerial de crise sobre a ameaça nuclear no Japão. “A situação é extremamente preocupante, muito grave”, disse Sarkozy.
O ministro do Interior, Claude Guéant, anunciou nesta quinta-feira que a França “está pronta” para acolher japoneses que precisem de cuidados médicos por conta de exposição à radiação.
“Temos hospitais especializados, com serviços de hematologia adaptados. Os franceses que foram repatriados do Japão também terão, claro, um acompanhamento médico específico”, disse o ministro. (Fonte: G1)

5- Dióxido de carbono aqueceu a Terra no passado, dizem cientistas
 
Processos de aquecimento global durando milhares de anos aconteceram durante a história com mais frequência que se imaginava previamente. A conclusão é de um estudo da Universidade da Califórnia de San Diego, nos EUA, publicado pelo jornal científico “Nature”.
Os pesquisadores afirmam que a liberação de volumes de dióxido de carbono que estavam isolados no fundo do oceano e seria o mais provável causador desses eventos “hipertermais”. A maior parte deles aumentou as temperaturas em entre 2° e 3°C, número comparável às estimativas conservadoras do aquecimento das próximas décadas, causado pela ação humana.
Eles chegaram a essa conclusão por meio da análise de sedimentos recolhidos na costa da América do Sul. Pela quantidade de argila acumulada no núcleo desses sedimentos, foi possível identificar que houve acidificação do oceano, o que é explicado pela presença de dióxido de carbono na água.
Na maioria das vezes, esses hipertermais duraram cerca de 40 mil anos. Eles ocorriam aproximadamente a cada 400 mil anos durante um período quente da história da Terra, há 50 milhões de anos. Por volta de 40 milhões de anos atrás, o planeta entrou numa fase de esfriamento e não houve mais eventos dessa magnitude.
“Esses hipertermais não parecem ter sido eventos raros, portanto há muitos exemplos antigos de aquecimento global numa escala que, de modo geral, é como o aquecimento esperado para o futuro. Podemos usar esses eventos para examinar o impacto da mudança global nos ecossistemas marinhos, no clima e na circulação dos oceanos”, afirmou Richard Norris, geólogo que é um dos autores da pesquisa.
Desde o século XVIII, o uso de combustíveis fósseis já aumentou em quase 50% as concentrações de dióxido de carbono. O estudo dos hipertermais do passado deve ajudar os cientistas a produzir estimativas de quando tempo será preciso para reverter as temperaturas aumentadas pelas atividades humanas.
“Num período de entre cem e 300 anos, fizemos um efeito sobre a Terra que levará dezenas de milhares de anos para ser equilibrado, a julgar pelo histórico geológico”, afirmou Norris. (Fonte: G1)
Enviado por Amanda França, Gestora Ambiental, de Uberlândia-MG. Integrante do eicaambiental.blogspot.com.

terça-feira, 22 de março de 2011

Novo Guia de campo Aves do Pantanal e Cerrado



Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado

Com 1.832 espécies catalogadas, o Brasil é um dos três países com maior número de espécies de aves do mundo. O turismo de observação de aves tem mostrado um grande potencial para a economia local em diversas regiões do país, e contribui também para a conservação do meio ambiente. Como forma de estimular as pessoas a observar e proteger a exuberante fauna de aves do Brasil, a Wildlife Conservation Society (WCS) e a Editora Horizonte lançam o Guia Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado, em eventos em São Paulo, Miranda (MS) e Brasília

São Paulo - Dia 24 de março, às 19:00 - Mesa redonda com John Gwynne e Martha Argel, seguida de coquetel e sessão de autógrafos - Livraria FNAC, praça dos Omáguas, 34, Pinheiros

Miranda - Dia 29 de março, às 20:00 - Mesa redonda com John Gwynne, Neiva Guedes (Projeto Arara Azul) e Martha Argel, seguida de coquetel e sessão de autógrafos - Estação do Trem do Pantanal


Brasília - Dia 5 de abril, às 19:00 - Coquetel e sessão de autógrafos - Livraria Cultura, Shopping Iguatemi

Sobre o livro
O Guia Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado é o primeiro de uma série que abordará as aves de todos os biomas brasileiros, permitindo sua identificação. Com linguagem simples e bem ilustrado, o livro tem o objetivo de popularizar a observação de aves no Brasil e estimular a conservação do meio ambiente. O primeiro volume da série apresenta 740 espécies de aves do Pantanal e do Cerrado. A maioria das descrições é acompanhada de ilustrações precisas feitas por renomados artistas especializados em aves, como Guy Tudor, o maior ilustrador de aves sul-americanas.

A ornitóloga Martha Argel, que escreveu o livro com outros três autores, explica que o guia é muito mais que uma ferramenta de observação de aves, pois constitui um instrumento educativo e científico de proteção ao meio ambiente e de incentivo ao turismo sustentável. “Esse material foi pensado, desde o início, para estimular as pessoas a contribuir com um ambiente mais saudável e uma economia mais justa, a partir de um maior conhecimento sobre o patrimônio natural do Brasil”.

Além das informações detalhadas sobre as espécies de aves e seus hábitats, o guia conta com inúmeras fotos de ambientes do Cerrado e do Pantanal e, ajuda a compreender como determinadas espécies de aves estão associadas a certos ambientes e como dependem deles para sobreviver.

O preço sugerido do Guia é de R$ 44,00. Este valor só foi possível graças aos fundos recebidos pela WCS de diversos doadores, entre os quais o Banco Mundial, várias fundações e pessoas físicas.

A autoria do guia é de John A. Gwynne, diretor de Criação e Vice-Presidente Emérito de Design da Wildlife Conservation Society, sediada em Nova York; Robert S. Ridgely, um dos maiores especialistas mundiais em aves da América do Sul e membro atuante da organização World Land Trust; Guy Tudor, ilustrador de aves neotropicais; e a brasileira Martha Argel, ornitóloga, escritora e autora de diversos livros de divulgação científica. Dezenas de ornitólogos e pesquisadores brasileiros colaboraram com os autores ao longo dos cinco anos de preparação das 322 páginas do livro e mais de 1000 ilustrações.

A edição em inglês do livro, WCS’ Birds of Brazil: The Pantanal and Cerrado of Central Brazil (A Field Guide), acaba de ser lançada em Nova York. Direcionada aos birdwatchers estrangeiros, tem o objetivo de incentivar o interesse internacional pelas aves brasileiras. As duas versões estão a venda pelo site www.edhorizonte.com.br.

Ficha técnica

Guia de Campo Aves do Brasil – Pantanal & Cerrado

Diretor do Projeto na WCS: John A. Gwynne

Autor Sênior: Robert S. Ridgely

Diretor de Arte: Guy Tudor

Coordenadora do Projeto na WCS e Tradução: Martha Argel

Mapeamento das Espécies: Robert S. Ridgely, Maria Allen e Terry Clarke

Diagramação e Produção: Terry Clarke

Editora: Horizonte

Nº de páginas: 322

Nº de ilustrações: 1020

Preço sugerido (versão em português): R$ 44

Preço sugerido (versão em inglês): R$ 79

Mais informações: www.horizontegeografico.com.br
Contato: (11) 3022-5599

Por que conservar carnívoros?


Onça fêmea fotografada em 2009 em região do Boqueirão da Onça, no sertão da Bahia. Crédito: Cláudia Bueno de Campos/Cenap/ICMBio


*Silvio Marchini

           

O futuro dos carnívoros depende, em parte, do balanço entre as motivações que nossa sociedade tem para conservá-los e as razões que determinados segmentos sociais – principalmente os produtores rurais que dividem o espaço com esses predadores – têm para perseguí-los. No Brasil, entre as razões para se perseguir carnívoros, destacam-se a prevenção da predação sobre animais domésticos e a retaliação por ataques já ocorridos. O prejuízo econômico resultante do ataque de carnívoros sobre animais domésticos é algo concreto, imediato, mensurável e, portanto, fácil de ser comunicado e entendido entre os produtores rurais. Essa razão prática e objetiva para se perseguir carnívoros é geralmente reforçada por sentimentos negativos em relação aos predadores e por percepções exageradas do risco de ataques sobre animais domésticos e, no caso dos carnívoros de grande porte, também sobre seres humanos. Além disso, a caça de carnívoros de grande porte pode ter um forte apelo social e pessoal, vide a persistência da caça recreativa da onça-pintada, a despeito da proibição legal. Por outro lado, as razões para se conservar os carnívoros nem sempre são tão fortes, objetivas e fáceis de comunicar e entender. Isso impõe aos conservacionistas a necessidade de conhecer melhor tais razões e, dessa forma, aprimorar a maneira como elas são comunicadas ao público.

Entre as razões para se conservar carnívoros, a mais explorada pelos conservacionistas é a ecológica. “Por estarem no topo da pirâmide alimentar, os carnívoros têm uma grande importância ecológica, pois podem regular a população de presas naturais e, desta forma, influenciar toda a dinâmica do ecossistema em que vivem. Na ausência de predadores, suas presas naturais, como mamíferos herbívoros (veados), roedores (capivaras, ratos), aves (pombas), répteis (cobras) e insetos (gafanhotos) tendem a se multiplicar exponencialmente, podendo trazer sérios prejuízos à agricultura e consideráveis perdas financeiras” (Leite-Pitman e Oliveira em Manual de identificação, prevenção e controle de predação por carnívoros). Essa é uma razão objetiva, cuja lógica conceitual pode ser entendida de forma intuitiva pelo público. Porém, a relação de causalidade entre matar um carnívoro em sua propriedade e sofrer perdas financeiras devido ao crescimento populacional de presas naturais nem sempre é percebida na prática pelo produtor rural, e conservacionistas raramente contam com exemplos concretos de tal “efeito cascata” indesejado em propriedades vizinhas que ajudariam a convencer o produtor rural. Entre abster-se de matar o predador para evitar uma suposta perda financeira devido a pragas no futuro e matar o predador para evitar a perda financeira certa e imediata resultante da predação sobre animais domésticos, o produtor rural tende a ficar com a segunda opção.
“Carnívoros são carismáticos e exercem uma atração excepcional sobre os turistas. A onça-pintada, por exemplo, é a espécie que mais aparece na propaganda turística em Mato Grosso depois do tuiuiú. Por outro lado, carnívoros são relativamente difíceis de observar na natureza.”

Outra razão objetiva para se conservar carnívoros é a econômica. Carnívoros geram renda. Internacionalmente, a caça esportiva e o comércio de peles e de produtos usados na medicina tradicional são importantes formas de exploração econômica de carnívoros. Como a caça esportiva e comercial de carnívoros é proibida em todo o território nacional, a motivação econômica para se conservar carnívoros no Brasil está associada principalmente ao turismo. Carnívoros são carismáticos e exercem uma atração excepcional sobre os turistas. A onça-pintada, por exemplo, é a espécie que mais aparece na propaganda turística em Mato Grosso depois do tuiuiú. Por outro lado, carnívoros são relativamente difíceis de observar na natureza. As espécies mais difíceis de observar tendem a ser justamente as que mais merecem cuidados de conservação. O avistamento de onças-pintadas, lobos-guarás, ariranhas, jaguatiricas, cachorros-vinagres ou gatos-do-mato dificilmente pode ser garantido por operadores de turismo, o que limita o potencial econômico desses animais como atração turística. A fim de aumentar a probabilidade de avistamento por turistas, alguns operadores usam iscas para atrair os carnívoros e habituá-los à presença humana. Tal prática, porém, desagrada aos turistas que preferem experiências mais autênticas com a fauna silvestre. Além disso, existem evidências de que a habituação de carnívoros à presença humana pode ter consequências indesejadas. Ataques recentes de onça-pintada a humanos no Pantanal, por exemplo, têm sido associados à habituação das onças à presença de turistas em decorrência do uso de iscas por parte de operadores de turismo. As notícias de tais ataques provavelmente agravaram atitudes negativas em relação às onças entre os pantaneiros e, nesse caso, o turismo pode ter contribuído para aumentar a hostilidade às onças. Para servir de motivação econômica para a conservação de carnívoros, o turismo deve ser devidamente planejado e implementado.

Existe também uma razão legal para se conservar carnívoros, ou ao menos para se abster de perseguí-los: matar carnívoros é um crime segundo a Lei de Crimes Ambientais. Segundo o Artigo 29 daquela lei, “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: pena de detenção de seis meses a um ano, e multa”. A razão legal para se conservar carnívoros é objetiva, fácil de comunicar e de entender. De fato, a maioria dos produtores rurais sabe que é ilegal matar carnívoros. Porém, em algumas áreas remotas do país é igualmente difundida a percepção de ausência da autoridade competente e da aplicação da lei. Naquelas áreas a perseguição aos carnívoros continua apesar da proibição.

A decisão entre perseguir ou conservar carnívoros é determinada não apenas pela racionalidade dos motivos ecológicos, econômicos e legais, mas também por fatores subjetivos e mais difíceis de comunicar e de serem entendidos pelo público. Carnívoros são conservados também por razões sociais, culturais, emocionais e éticas. Esses fatores têm recebido menos atenção por parte dos conservacionistas, mas não são necessariamente menos importantes.
“O desejo de aprovação social e de fazer o que 'os outros' estão fazendo determina comportamentos ambientalmente responsáveis em uma sociedade cada vez mais ambientalmente consciente como a nossa.”

A motivação social para um produtor rural conservar os carnívoros em sua propriedade resulta da sua percepção de que a conservação de carnívoros é aprovada e praticada por segmentos relevantes da sociedade e, em particular, pelos membros do próprio segmento social ao qual pertence. O desejo de aprovação social e de fazer o que “os outros” estão fazendo determina comportamentos ambientalmente responsáveis em uma sociedade cada vez mais ambientalmente consciente como a nossa. De fato, existem evidências de que normas sociais (= crenças sobre que comportamentos são aprovados e desempenhados pela maioria) podem ser usadas de forma efetiva em comunicação. Por exemplo, um estudo avaliou a efetividade de diferentes mensagens para convencer os hóspedes de um hotel a economizar água e demonstrou que a mensagem com apelo à sustentabilidade – economize água para o benefício das gerações futuras – foi menos efetiva que a mensagem com apelo à norma social – 75% dos nossos hóspedes economizam água. Esse “efeito maria-vai-com-as-outras”, no entanto, permanece praticamente inexplorado na pesquisa e na comunicação para a conservação da biodiversidade em geral e de carnívoros em particular.

O papel excepcional que os carnívoros ocupam na nossa cultura também pode servir de motivação para sua conservação. A onça-pintada, por exemplo, é um ícone da cultura latino americana. De pinturas rupestres à cédula de 50 reais, passando pelas crônicas dos primeiros exploradores e pinturas que retratam a história do país, literatura clássica e folclore, nenhuma outra espécie deixou tamanha “pegada” no nosso registro cultural. Na literatura infantil, a onça-pintada é a espécie da fauna brasileira que aparece no maior número de títulos. O topo da lista dos livros infantis, porém, é dominado por animais exóticos – leão, lobo e urso – todos carnívoros de grande porte (a onça-parda, segundo maior carnívoro terrestre brasileiro, está praticamente ausente na literatura infantil do país, provavelmente ofuscada por sua parente mais notória, a onça-pintada).

Uma razão excepcionalmente subjetiva, porém relevante, para se conservar carnívoros é a emocional: nós gostamos de carnívoros. Uma evidência disso é nossa preferência entre os animais de estimação: cães e gatos – ambos carnívoros – são, de longe, os animais de estimação preferidos em todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, pelo menos uma a cada três famílias possui cão ou gato em casa. São mais de 72 milhões de cães e 81 milhões de gatos mantidos como animais de estimação naquele país. Emoções como o amor, e também o ódio e o medo, podem desempenhar um papel central na nossa relação com os carnívoros. No entanto, pouca atenção tem sido dada ao componente afetivo das interações entre gente e fauna silvestre. Duas possíveis razões para isso são: (i) emoções são relativamente difíceis de mensurar, conceitualmente difíceis de entender e, portanto, difíceis de comunicar ao público, e (ii) o ideal dos conservationistas tem sido o de enfatizar a racionalidade no processo de tomada de decisões, ao mesmo tempo que tenta excluir quaisquer considerações de cunho emocional. Emoções e cognições, porém, são sistemas separados e estão ligados a partes diferentes do cérebro: quando tomamos uma decisão, como a de matar ou conservar um carnívoro, emoções e cognições interagem.

Por fim, existem razões éticas para se conservar carnívoros. “Devemos conservar carnívoros porque atribuímos valor intrínsico a eles, acreditamos que eles tenham tanto direito de existir quanto nós e achamos, portanto, que levar um carnívoro à extinção é moralmente reprovável”. E mais, “assim como devemos respeitar nossos vizinhos de bairro por cidadania, que é baseada na ética e independe de qualquer fundamento científico, econômico ou legal, devemos respeitar também as demais espécies, por cidadania ecológica”. Porém, enquanto a ecologia e a economia são baseadas em princípios universais, a ética varia de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, e muda com o tempo. Nem todos concordam com as afirmações acima. A subjetividade da ética torna o apelo moral para a conservação dos carnívoros particularmente difícil de comunicar – e de ser imposto – ao público.

Em suma, são várias as motivações para se conservar carnívoros. Algumas dessas motivações estão se tornando mais fortes e difundidas. O avanço da ciência revela a importância ecológica dos carnívoros e o avanço dos meios de comunicação contribui para difundir essa informação. O fortalecimentos das instituições competentes e o desenvolvimento da infrastrutura nas partes mais remotas do país reforçam a aplicação das leis que protegem os carnívoros. A modernização da sociedade é acompanhada por uma mudança de valores em relação à natureza – de valores predominantemente utilitários para valores mutualísticos – de modo que carnívoros em seu habitat ganham importância como recursos turísticos e sua conservação é cada vez mais incentivada socialmente. Na sociedade pós-industrial, o horizonte ético é expandido e considerações morais se aplicam cada vez mais às nossas relações com os carnívoros. No entanto, para muitas pessoas, as razões para matar carnívoros ainda prevalecem sobre as motivações para conservá-los. Como consequência, 10 das 26 espécies de carnívoros da fauna brasileira estão atualmente ameaçadas de extinção. O desafio à frente na conservação dos carnívoros é, em última análise, tornar as razões que aquelas pessoas têm para perseguir carnívoros menos relevantes do que as razões que elas têm para conservá-los.


Silvio Marchini, doutor em Conservação da Vida Silvestre, fundador da Escola da Amazônia. silvio@escoladaamazonia.org



fonte: oeco.com.br

Consumo e Responsabilidade Ambiental com toque feminino

World  Café
Ciclo: Consumo e Responsabilidade Ambiental e Social
Tema: Mulher, consumo e sustentabilidade



Com o tema Mulher, consumo e sustentabilidade, em comemoração ao mês da mulher, a UMAPAZ dá início no próximo dia 23 de março, quarta-feira, às 19h, ao World Café - Ciclo: Consumo e Responsabilidade Social. O objetivo é uma conversa sobre o papel da mulher como direcionadora das escolhas de consumo na família e na sociedade.
O ciclo continua nos dias 23 de maio e 06 de junho, sempre com facilitação de Maluh Barciotte.
No dia 23 de maio o World Café abordará o tema Lixo, consumo, autonomia e ética, propondo uma conversa sobre a importância, para a população e município de São Paulo,  da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos e legislação estadual e municipal afins, com vista à regulamentação da PNRS prevista para meados de 2011.
Em 06 de junho, na Semana do Meio Ambiente, a programação traz o tema Uso do dinheiro, consumo responsável e  sustentabilidade, dialogando sobre um novo olhar sobre a autonomia e a liberdade de escolha no mundo contemporâneo.
O World Café é um método de diálogo colaborativo sobre temas e assuntos diversos da vida baseada nos princípios e formato desenvolvidos pelo The World Café (www.theworldcafe.com), um movimento global em crescimento para apoiar diálogos relevantes em ambientes corporativos, governamentais e comunitários por todo o mundo, possibilitando ver novas maneiras para fazer a diferença em nossas vidas.
A facilitadora será Maluh Barciotte, bióloga e Mestre em Biologia pelo Instituto de Biociências/USP e Doutora em Saúde Pública e Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Auditora-senior ISO 14 000 pelo EARA/Environmental Auditors Registration Association e especialista em Avaliação de Impacto Ambiental pelo Departamento de Ecologia da USP. Professora universitária, desde 1981, vem trabalhando na assessoria e coordenação de projetos sócio-ambiental-culturais e ministrando palestras e cursos envolvendo os temas sustentabilidade, responsabilidade social, saúde e qualidade de vida, ética e cultura de paz em empresas, escolas e comunidades.
Serviço: World  Café - Ciclo: Consumo e Responsabilidade Ambiental e Social
Tema: Mulher, consumo e sustentabilidade
Dia e horário: 23 de março, quarta-feira, às 19h
Facilitadora: Maluh Barciotte
Demais datas: 23 de maio e 06 de junho
Local: UMAPAZ – Av. IV Centenário, 1268 – Portão 7-A – Parque Ibirapuera
Informações: 11-5572-1004
Não é necessária inscrição prévia. Pede-se chegar com 15 minutos de antecedência

Enviado por Ana Paula Gouveia, Gestora Ambiental, integrante do eicaambiental.blogspot.com