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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sociedade civil é chave para sucesso da Rio+20


Foto: Divulgação


Maura Campanili
Mesmo que a melhor tecnologia seja aplicada e que as perspectivas mais arrojadas se realizem, os problemas ambientais enfrentados pela humanidade não vão se resolver sem mudança nos padrões de consumo e na relação entre economia e sociedade. Este foi o recado do sociólogo e economista Ricardo Abramovay, durante o evento Radar Rio+20, realizado nos dias 19 e 20 de julho, em São Paulo, com o objetivo de capacitar profissionais de mídia para cobrir a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
Promovido em parceria pelo Instituto Vitae Civilis (VC), Instituto Socioambiental (ISA) e Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces), o evento reuniu cerca de 70 profissionais especializados no tema da sustentabilidade, na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. A ideia do projeto é que se comece a discutir a conferência - cujos temas serão a economia verde e meios de governança para o desenvolvimento sustentável - ainda durante o processo preparatório. “Embora não se possa tirar a responsabilidade dos governos, a Rio+20 será o que conseguirmos fazer dela. Nesse sentido, a sociedade civil tem que puxar as discussões e não perder a oportunidade”, defendeu Aron Belinky, coordenador de Processos Internacionais do VC.
A Conferência da ONU sobre sustentabilidade, que volta ao Rio de Janeiro depois de 20 anos, acontecerá desta vez em apenas três dias, entre 4 e 6 de junho de 2012. No entanto, as negociações devem começar já uma semana antes, com a realização na cidade da última reunião preparatória (Prepcon). Além disso, novamente a Cúpula dos Povos deverá ser um importante espaço para eventos paralelos da sociedade civil, que deverá prolongar o interesse mundial sobre os eventos no Rio do final de maio até 10 de junho.
Uma das preocupações das organizações da sociedade civil que participam do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20 é que o evento não se torne apenas uma vitrine para tecnologias verdes e um balanço superficial da Rio-92. Criado no final de 2010, o comitê tem em sua secretaria executiva representantes de várias redes socioambientais, como o Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo Fórum Social Mundial (Grap), a Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) e o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Fbons), entre outros.
Mesmo que ainda não se tenha consenso sobre o conceito de economia verde, transformações técnicas são fundamentais para enfrentar questões como as mudanças climáticas. Segundo Abramovay, “produzir com menos matéria e energia é o centro da economia verde, que tem três dimensões básicas: novas fontes de energia, a maneira como se usa a energia e a relação entre a sociedade e os ecossistemas, que pode ser traduzida também pela relação da economia com a biodiversidade”.
Para o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), ainda estamos muito longe da solução, principalmente porque estamos acostumados a “nosso escravo barato”, que é o petróleo, cuja exploração continua a crescer. O mesmo acontece com o carvão. “Nos Estados Unidos, a produção de carvão cresce 2% ao ano desde 1940. Entre 2008 e 2030, o consumo norte-americano de carvão deverá aumentar em 47%”, diz. Conforme Abramovay, 80% da diminuição de emissões necessárias até 2050 deverá vir da maneira como usamos a energia e não das energias alternativas. Um exemplo de que a abordagem econômica está longe de dar sinais de dinâmica virtuosa é a forma de exploração predatória da Amazônia.
Um caminho considerado necessário para se conseguir avançar em direção a uma economia verde é um sistema de governança global voltado ao desenvolvimento sustentável. Segundo Belinky, a experiência mostra que não se deve gerar expectativas exageradas para a conferência, mas é possível esperar que se encaminhem processos que levem à proposição desse sistema de governança e a metas de sustentabilidade.
Entre as discussões que devem ser aprofundadas até junho, estão a criação de uma agência especializada da ONU sobre o tema, nos moldes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ou Organização Mundial do Comércio (OMC), talvez a partir de programas já existentes, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) ou para o Desenvolvimento (Pnud). “Por enquanto, ainda é especulação, mas parece viável que se consiga, na Rio+10, acordar as bases para a governança global do desenvolvimento sustentável, definir um prazo para sua criação e constituir e empoderar um grupo com esse mandato”, espera Rubens Born, coordenador executivo do Vitae Civilis.
Uma segunda edição do seminário ocorrerá em Brasília no dia 11 de agosto. Além dos seminários, o projeto Radar Rio+20 contará com uma publicação também voltada a profissionais da mídia e um website para o público geral, a serem lançados ainda em 2011.
Saiba mais:
Site oficial da Rio+20 

Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20

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