FOTO:Ivan Ruela |
Era mais uma tarde típica de calor em Cuiabá, quando me deparei com uma cena, no mínimo, revoltante. Um rapaz de cerca de uns 30 anos, trajando uniforme de vigilante, tentando matar uma coruja jogando contra ela, uma garrafa PET. A tentativa de assassinato foi sob uma marquise de um supermercado, no pacato bairro chamado “Recanto dos Pássaros”, nesta capital. Em tempo! Antes de parecer um trocadilho, a Coruja é uma ave, não um pássaro. Pássaros são integrantes da ordem dos Passeriformes. Corujas são da ordem dos Strigiformes. Todo pássaro é uma ave, nem toda ave é um pássaro.
Sentindo-me incomodado e intrigado com essa situação, perguntei o porquê daquele ato, uma maldade com um ser indefeso. O vigilante cuiabano, explicou rebatendo: “Coruja não serve pra nada, come filhote de passarinho, é bicho feio e dá azar, tem que morrer mesmo”. Disse a ele que poderia ser abordado ou até preso porque aquilo que fazia naquele momento configurava em crime ambiental. “Crime ambiental? Não tem Polícia Ambiental no Mato Grosso, o Ibama não prende os madeireiros que estão destruindo a Amazônia, vão prender quem mata uma coruja? Eles deveriam me agradecer, porque este animal é uma praga!”. “Por falar em praga, as corujas são devoradoras de insetos, cobras e ratos”, expliquei ao impaciente vigilante. “Ratos? Ela come ratos? Odeio ratos! Meu irmão morreu de Leptospirose lá no “Nortão” (como se costuma chamar o norte do MT). Vou deixar essa bichinha em paz então.”
Tirei a foto da rapineira, e enviei a um amigo e Ornitólogo, Marcus Canuto, de Belo Horizonte. Trata-se da “Coruja buraqueira” (Athene cunicularia). Ela faz seu ninho em buracos no solo, aproveitando às vezes de tocas de animais, como o tatu. O casal se reveza nessa “engenharia”, alargando a cova para a reprodução. Decidi me informar melhor sobre a “Buraqueira”, para daqui pra frente, ter mais argumentos quando me deparar com uma situação parecida com a do vigilante, ou por pura curiosidade. Somos dotados de preconceito e de ignorância frente às questões ambientais, como por exemplo, as interações ecológicas. Isso se dá por preguiça intelectual ou por falta de informação mesmo. Outra questão que pude perceber neste bate papo, foi a descrença do brasileiro frente a alguns órgãos públicos, como o Ibama. A PM Ambiental, no Mato Grosso, ao menos, está em vias de ser reativada.
O humilde vigilante, distante destas informações, não tem culpa por não ter acesso a elas. Esse desafio pertence a um grupo de pessoas que precisam deixar vaidades de lado e atuarem de forma mais conjunta e abrangente numa multidisciplinar Informação e Educação Ambiental, seja formal ou informal, em todas as frentes. Biólogos, Gestores e Engenheiros Ambientais, Jornalistas, Advogados, Veterinários, Dirigentes públicos e universitários, Professores e Geógrafos, são atores fundamentais para o sucesso dessa jornada. Outros cidadãos sempre serão bem vindos nesta difusão.
* IVAN RUELA é Gestor Ambiental e Coordenador da Rede Brasileira de Informação Ambiental - Rebia, no Mato Grosso
Editor do eicaambiental.blogspot.com.br
ivan ruela25@yahoo.com.br
Twitter: ivanruela
Sentindo-me incomodado e intrigado com essa situação, perguntei o porquê daquele ato, uma maldade com um ser indefeso. O vigilante cuiabano, explicou rebatendo: “Coruja não serve pra nada, come filhote de passarinho, é bicho feio e dá azar, tem que morrer mesmo”. Disse a ele que poderia ser abordado ou até preso porque aquilo que fazia naquele momento configurava em crime ambiental. “Crime ambiental? Não tem Polícia Ambiental no Mato Grosso, o Ibama não prende os madeireiros que estão destruindo a Amazônia, vão prender quem mata uma coruja? Eles deveriam me agradecer, porque este animal é uma praga!”. “Por falar em praga, as corujas são devoradoras de insetos, cobras e ratos”, expliquei ao impaciente vigilante. “Ratos? Ela come ratos? Odeio ratos! Meu irmão morreu de Leptospirose lá no “Nortão” (como se costuma chamar o norte do MT). Vou deixar essa bichinha em paz então.”
Tirei a foto da rapineira, e enviei a um amigo e Ornitólogo, Marcus Canuto, de Belo Horizonte. Trata-se da “Coruja buraqueira” (Athene cunicularia). Ela faz seu ninho em buracos no solo, aproveitando às vezes de tocas de animais, como o tatu. O casal se reveza nessa “engenharia”, alargando a cova para a reprodução. Decidi me informar melhor sobre a “Buraqueira”, para daqui pra frente, ter mais argumentos quando me deparar com uma situação parecida com a do vigilante, ou por pura curiosidade. Somos dotados de preconceito e de ignorância frente às questões ambientais, como por exemplo, as interações ecológicas. Isso se dá por preguiça intelectual ou por falta de informação mesmo. Outra questão que pude perceber neste bate papo, foi a descrença do brasileiro frente a alguns órgãos públicos, como o Ibama. A PM Ambiental, no Mato Grosso, ao menos, está em vias de ser reativada.
O humilde vigilante, distante destas informações, não tem culpa por não ter acesso a elas. Esse desafio pertence a um grupo de pessoas que precisam deixar vaidades de lado e atuarem de forma mais conjunta e abrangente numa multidisciplinar Informação e Educação Ambiental, seja formal ou informal, em todas as frentes. Biólogos, Gestores e Engenheiros Ambientais, Jornalistas, Advogados, Veterinários, Dirigentes públicos e universitários, Professores e Geógrafos, são atores fundamentais para o sucesso dessa jornada. Outros cidadãos sempre serão bem vindos nesta difusão.
* IVAN RUELA é Gestor Ambiental e Coordenador da Rede Brasileira de Informação Ambiental - Rebia, no Mato Grosso
Editor do eicaambiental.blogspot.com.br
ivan ruela25@yahoo.com.br
Twitter: ivanruela
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