*Ivan Ruela
Na década de 70, Roberto Burle Max, vislumbrado com formatos rochosos no estilo 'Pão de Açúcar', em área coberta por densa mata atlântica,no noroeste capixaba, exclamava: “É o lugar mais bonito do mundo”. A admiração do paisagista se estendia ao Monumento Natural dos Pontões Capixabas, situado nos municípios de Pancas e Águia Branca, noroeste do Espírito Santo. foi criado em 2008, substituindo o parque nacional de mesmo nome. A troca de categoria da Unidade de Conservação (UC) foi comemorada por pomeranos e pelos descendentes de poloneses que vivem na região. Sem essa mudança, os moradores seriam obrigados a deixar as propriedades localizadas dentro da demarcação da reserva
Pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o Monumento Natural, é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, podendo ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Já nos parques nacionais, é proibida a permanência de moradores em seu interior.
O Monumento Natural dos Pontões Capixabas tem em seu redor mais de 500 famílias presentes, com mais de dois mi moradores, em quase 400 propriedades. São 17.496 hectares, a mesma área do parque, criado em 2002. Os descendentes de pomeranos, oriundos da Pomerânia, extinta região situada entre a Prússia e Alemanha, e que chegaram ao Brasil no século XIX, com predominância nos estados do Espirito Santo e Santa Catarina, habitam a área do monumento no município de Pancas. Já os descendentes de poloneses, povoam a região de Águia Branca, município vizinho. “A maior área da reserva, cerca de 70%, fica em Pancas, porém a população residente no monumento fica dividida entre os dois municípios.
A UC compreende uma área de aproximadamente 100.000 hectares, porém o Parque, e consequentemente, o Monumento, foram constituídos em menos de 20% desta área.”Uma das ideias é a formação de um Mosaico de Unidades de Conservação,inclusive com a criação de RPPN´S na região”, conta Osvaldo Ceotto, do ICMBIO, gestor da reserva. Só existem 3 monumentos naturais federais no Brasil, a UC capixaba é a única em Mata Atlântica. O Monumento Natural do Rio São Francisco, fica na Caatinga. Já o Monumento Natural das Ilhas Cagarras situa-se no bioma Marinho.
O local é formado pelos formações rochosas Inselbergs (Ilhas de morros, constituído por graníticos ou granitoides), em formato Pão de Açúcar, montanhas, vales, cachoeiras e remanescentes florestais preservados. A Pedra Agulha, com 500 metros de altura e a Pedra do Camelo, com 720 metros, são seus cartões postais. É propício para práticas de esportes de aventura e ecoturismo, contendo rampa de voo livre, trilhas para caminhadas, pedras para escalada e rapel, além de ser um excelente ponto para observação de aves. Um circuito turístico foi criado, tendo em seu percurso algumas propriedades que vem se transformando em hotéis fazenda. “Tudo aqui é recente, o povo ainda tem muito a se conscientizar tanto sobre preservação, quanto com relação ao turismo”, relata o mineiro Adeilto Moreira, Biólogo e Professor, que mora a quase dois anos na cidade. Outro destaque do circuito é a tradicional culinária pomerana.
Apesar da região estar muito devastada em relação a época da visita de Burle Max, ainda são encontrados relevantes fragmentos de matas, além de ter registros de mamíferos raros como a Onça-Pintada (Panthera onca), Gato Maracajá
(Leopardus wiedi) e Preguiça de Coleira ( Bradypus torquatus). Também são encontradas diversas aves, como os psitacídeos ameaçados de extinção, Papagaio-Chauá (Amazona rhodocorytha) e Papagaio-Moleiro (Amazona farinosa), outras raras, como o Tucano do Bico Preto (Ramphastos vitellinus ariel), o Anu-Coroca (Crotophaga major) e o Urubu-Rei (Sarcoramphus papa), espécies que são exigentes de mata preservada.
A degradação na região se deu por conta inicialmente com a retirada de madeiras de lei, como a Peroba (Aspidosperma sp) e o Jacarandá ( Jacaranda sp), vendidas a peso de ouro no mercado internacional. Depois com a produção do Café e outras lavouras, substituídas parcialmente depois pelas pastagens, que se expandiram ao longo dos anos. Hoje a grande ação predatória que atinge a região é a Mineração, com a retirada de granitos no local, provocando estragos em toda a biodiversidade e no aspecto paisagístico. “ A caça e o desmatamento ainda acontecem na região, somados ao uso desenfreado de agrotóxicos, que vem contaminando o lençol freático, além das pastagens degradas. Alguns córregos estão assoreados. Vamos promover cursos e campanhas pra mudar esse quadro. Estamos com um convênio com o IEMA (Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo), com o projeto 'Fundágua'. Vamos recuperar nove nascentes dos pontões”, anima-se Ceotto. E as medidas mitigatórias e conscientizadoras não param por aí. Segundo o gestor da unidade, serão promovidos cursos de técnicas de compostagem, usando bagaço de cana, casca de café e de arroz, palha de milho e restos de alimentos, como substrato para mudas de plantas nativas para recuperação florestal. Além disso, mudas serão doadas para os produtores plantarem em suas terras.
O conselho consultivo do monumento deverá ser constituído até Abril de 2012. Segundo Ceotto, serão quatro reuniões setoriais previstas, nas cidades de Pancas e Águia Branca, envolvendo órgãos públicos, sociedade civil organizada, sindicatos e a Associação de Voo Livre de Pancas(AVLP), que terão designados seus representantes. O Plano de Manejo da UC deve ser concluído entre 2013 e 2014, quando serão definidas as normas de uso e manejo da área.
Além dos torneios de voo livre, e a criação e expansão do Turismo Rural na região, um fórum de ecoturismo de alcance nacional deverá ocorrer na cidade de Pancas, em 2012. Se as propostas e projetos previstos tiverem êxito, acompanhadas pela conscientização da população local e dos turistas, as palavras de Burle Max poderão ser repetidas diversas vezes.
*Editor do Blog eicaambiental.blogspot.com
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